Deolinda Domingues Alves volta a propor-nos um poema seu, com que nos brinda com alguma regularidade.
Desta vez desenvolve um tema muito presente na nossa literatura, o de amores não correspondidos.
Haverá maior tortura que a indiferença, a de estar na presença de alguém a quem se quer bem, mas que nunca nos vai corresponder?
Tem que se aprender a viver sem esse alguém, mesmo que esteja na nossa presença.
Que importa que o sol sorria e as ribeiras cantem, se a solidão apenas nos recorda que as fontes choram?...
DIZ-ME QUE NÃO É LOUCURA
Procuro um abrigo
No teu meigo olhar
E, sem saber por onde passo,
Quero, apenas, aquecer a alma
No calor do teu abraço
Mas tu não prendes o meu
olhar
Para me falares de amor!
Triste e desolada
Vou por caminhos incertos;
Abrigo-me na noite escura
E deixo que as lágrimas se
soltem
Quando a manhã desperta a
vida
Cantam as ribeiras,
Choram as fontes,
Começa o sol a sorrir…
Cheira a alecrim e a rosa
brava;
Cheira a giesta perfumada
Em lugares solitários
E ao deus dará,
Que aguardam pelo grito da
alvorada
Quando a noite vem a chegar,
Casas fechadas,
Lareiras apagadas
E, apenas o luar,
P’ra amenizar a solidão
À meia noite
No relógio da torre,
O som das doze badaladas
A quebrar o silêncio
Que teima em nos separar
Diz-me que não é loucura
Desejar um novo dia
Para no teu olhar
Perder o meu,
Tal como no mar
Se perde o céu
Deolinda Domingues Alves
Leiria
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