domingo, 23 de setembro de 2012

Falando de Ondas Curtas


FALANDO  DE  ONDAS CURTAS


         Em vastas áreas de África, Ásia e América Latina, a escuta das Ondas Curtas é o único meio de estar em contacto com o Mundo exterior.
         A rádio sucedeu à telegrafia com fios, em que se usava o código “morse”. Com base numa teoria do físico alemão Hertz, o italiano Marconi conseguiu que a propagação de ondas electromagnéticas no espaço transportasse os sinais de “morse”, recorrendo a um emissor de rádio, ou seja, sem utilizar fios.
         Um outro físico e inventor, Fesseden, americano, realizou a primeira emissão de rádio com sons diferentes dos sinais de morse. Ele foi o autor de um sistema, que conseguia transmitir, através de uma válvula aperfeiçoada, qualquer som, incluindo a voz humana. Podemos dizer que ele realizou a primeira emissão de radiodifusão que existiu: foi na véspera de Natal de 1906, no Estado da Massachussets, USA. Fesseden leu uma história de Natal, tocou violino e desejou a todos os seus ouvintes um Bom Natal. Os seus ouvintes, nessa noite, foram apenas os operadores de rádio de serviço num barco ao largo da costa americana.

         Por volta de 1920 começaram a aparecer as estações de rádio por todo o Mundo: Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Dinamarca. Cinco anos depois, as estações já se estendiam por toda a Europa, Japão, Índia e México. Cerca de 1930 já se ouvia rádio em Onda Curta por todo o Mundo: a União Soviética transmitia em 50 línguas os seus programas de propaganda política; o mesmo tipo de programas em línguas estrangeiras passou a ser transmitido também pela Alemanha nazi e pela Itália fascista, em 1933 e 1936, respectivamente.
         Antes, em 1923, tinha sido criada a BBC de Londres e, em 1943, apareceu a Voz da América para emitir propaganda durante a 2.ª Guerra Mundial.

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         Desde os primeiros tempos da rádio, foi possível acompanhar os acontecimentos de todo o Mundo quase no momento em que eles aconteciam. Os aparelhos funcionavam a válvulas e tinham uns minutos de aquecimento para começarem a trabalhar. Depois, durante mais de meia hora, continuava o aquecimento e era preciso sintonizar de novo, acertar a frequência, que “fugia”... Era um trabalho de paciência, de muita persistência e de habilidade.
         Mas compensava: quem tivesse acesso a um receptor de Ondas Curtas e o cuidado de, diariamente, acompanhar as suas emissões, ficava a par do que acontecia no Mundo, pelo menos na maneira de ver dos responsáveis pela programação. A História era escrita dia a dia, para o bem e para o mal.

         Nos anos “trinta”, quando a Onda Curta começou a chegar a todo o Mundo, foi possível acompanhar a acção de Gandhi na Índia; a chegada ao poder de Salazar em Portugal e de Hitler na Alemanha; a invasão da Etiópia e da Albânia pela Itália de Mussolini e a terrível guerra civil em Espanha; o ataque do Japão à China e a anexação da Áustria pela Alemanha; o início da 2.ª Guerra Mundial, o ataque da União Soviética à Finlândia e a divisão da Polónia entre a União Soviética de Estaline e a Alemanha de Hitler.

         Nos anos “quarenta” já os receptores de Onda Curta tinham melhorado, mas os homens não: os americanos lançam duas bombas atómicas sobre o Japão e os soviéticos instalam na Europa “a cortina de ferro”; criminosos de guerra nazis e japoneses são condenados à morte e a América auxilia a Europa com o Plano Marshall; a Índia divide-se em dois países (Índia e Paquistão) e é fundado o estado de Israel; dividem-se as Coreias (a do Norte e a do Sul), as Alemanhas (Ocidental e Oriental) e a China (com capitais em Pequim e Taipé).

         Nos anos “cinquenta” os receptores ganham em potência e qualidade de som, aparecem também emissores mais potentes, que permitem um acompanhamento mais perfeito dos acontecimentos mundiais: trava-se a Guerra da Coreia e a China anexa o Tibete; morre Estaline na União Soviética e emerge Nikita Khruchtchev; é atingido o cume do Evereste, a montanha mais alta do Mundo; Tito torna-se presidente da Yugoslávia, Nasser do Egipto e Eisenhower dos Estados Unidos; o Vietname divide-se em dois (o do Norte e o do Sul) e o presidente brasileiro Getúlio Vargas suicida-se; o Egipto nacionaliza o Canal do Suez e na Hungria os soviéticos esmagam a revolta; é estabelecido o Mercado Comum Europeu, a União Soviética lança o “Sputnik” (1.º satélite artificial da Terra) e, em Portugal, O Gen. Humberto Delgado perde eleições fraudulentas.

         Nos anos “sessenta” assiste-se à chegada dos rádios transistores, mais pequenos, mais baratos, sem aquecimento, mais duráveis e económicos. Principalmente, tornaram-se portáteis, o que permitia ouvir as emissões em qualquer lugar, usando apenas a antena incorporada. Era agora possível acompanhar melhor a marcha do Mundo: Fidel Castro toma o poder em Cuba e, no Brasil, é inaugurada a nova capital Brasília; John Kennedy torna-se presidente nos Estados Unidos e Patrice Lumumba é assassinado no Congo; Yuri Gagarin, cosmonauta soviético, é o primeiro homem em órbita da Terra e regista-se a crise dos mísseis soviéticos em Cuba; verifica-se a independência de um grande número de países africanos de língua francesa e inglesa e começa a Guerra do Vietname; dá-se a Revolução Cultural na China e o Biafra existe como estado independente da Nigéria durante 7 ou 8 meses; A Checoeslováquia é invadida pela União Soviética e, em Portugal, Marcelo Caetano substitui Salazar; Neil Armstrong e Edwin Aldrin, dois cosmonautas americanos, são os primeiros homens a caminhar na Lua.

         Nos anos “setenta” a escuta da Onda Curta começa a limitar-se aos países de África, Ásia e América Latina, apesar de terem aparecido boas séries de rádios das marcas “Grundig”, “Zenith”, “Sony” e “Nordmende”, entre outras. E a saga do Homem continua: dá-se a independência dos países africanos de língua portuguesa; Nixon visita a China e a União Soviética e demite-se na sequência do escândalo Watergate; nos Jogos Olímpicos de Munique, na Alemanha, onze atletas de Israel são mortos por árabes e os árabes reduzem as exportações de petróleo; O Vietename reunifica-se e instala-se a democracia parlamentar em Portugal e em Espanha; a nave espacial americana “Viking” I aterra em Marte e, na China, morre Mao Tse Tung; morrem os Papas Paulo VI e João Paulo I e sucede-lhes João Paulo II.

         Estes são apenas uma ínfima parte dos acontecimentos que marcaram a Humanidade desde a generalização da Onda Curta pelo Mundo até ao aparecimento de outros meios nas zonas economicamente mais desenvolvidas. Quem, mesmo nas zonas mais isoladas e distantes, pôde acompanhar os acontecimentos, no seu dia a dia, através do seu rádio de Onda Curta, decerto reconheceu estes acontecimentos e recordou outros que lhe ficaram mais na memória. Pode dizer-se que um ouvinte de rádio não deixa que a História lhe passe ao lado, antes a observa de lugar privilegiado, relacionando os factos, antevendo soluções.

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         Apesar do aparecimento, nos últimos tempos, das chamadas “rádios comunais”, as estações de rádio existem predominantemente nos principais aglomerados populacionais. Como a distância entre aquelas localidades é sempre considerável, não é viável escutar a Onda Média e muito menos a Frequência Modulada (FM), porque estes dois meios estão apenas ao alcance de quem viva mais ou menos próximo das cidades.
         Torna-se então necessário recorrer à Onda Curta, cujas características fazem com que o som de um emissor seja levado a qualquer distância, dependendo da sua potência, da antena a que está ligado, das horas do dia ou da noite a que transmite, da frequência que utiliza, dos meios de recepção do ouvinte, etc..

         Podemos pensar num ouvinte em Mabote, no interior da província de Inhambane, e tentar descobrir que hipóteses tem ele de ouvir uma emissão da Rádio Moçambique (RM). Sabemos que as cidades que têm emissores e que ficam mais próximas de Mabote são Inhambane e Beira. Em linha recta, estas cidades ficam a cerca de 250 Km de Mabote.
         Vamos considerar Inhambane: a cidade tem o Emissor Provincial, que transmite em 1206 kHz, 249 metros, Onda Média, com 5 Kw (diz-se quilo-uotes ou quilovátios) de potência. De dia, a potência do emissor não permite chegar além de Homoíne, talvez Morrumbene, no máximo. À noite, com um bom rádio, talvez se pudesse ouvir uma pequena parte da emissão em Mabote.
         Agora vamos ver o que acontece com a Beira: aqui há dois emissores de FM  (Antena Nacional e Emissão Provincial + Rádio Cidade), que servem apenas a cidade e arredores. Há também um emissor de Onda Média que transmite a Emissão Provincial, com 50 Kw de potência. De dia, é demasiado longe para se ouvir em Mabote, mas à noite talvez se pudesse ouvir alguma coisa. Chimoio também tem Onda Média, mas é mais longe.
         No entanto, na Beira há emissores de Onda Curta, no Dondo, que começaram a funcionar em 1970.
         A solução para o ouvinte em Mabote é a escuta da Onda Curta. Pode escolher entre a Antena Nacional e a Emissão Provincial.
         A Antena Nacional transmite de manhã e à noite na banda dos 90 metros (frequência de 3280 kHz – diz-se quilohertz), enquanto que, durante o dia, pode ser escutada em 31 metros (frequência de 9635 kHz – também se diz quilociclos por segundo e neste caso a abreviatura é kc/s).
         A Emissão Provincial de Sofala transmite em 90 metros (3370 kHz), em hora local de Moçambique, das 04.50 às 07.00 (de manhã) e das 17.00 às 00.10 horas (à noite). Transmite também durante quase toda a sua emissão, das 04.50 às 22.00 h, na banda dos 31 m (9635 kHz)

         Daqui já podemos tirar algumas conclusões sobre as bandas utilizadas em Onda Curta, dependendo da hora:
-         De manhã e à noite utilizam-se as frequências mais baixas, 3200 a 3400 kHz, por exemplo, a que corresponde a banda dos 90 metros;
-         Durante o dia usam-se as frequências mais altas, 9400 a 9990 kHz, (9635 para a Antena Nacional) que equivalem à banda dos 31 metros.
         Mas o que é isso de bandas e de frequências?
         A Rádio Moçambique (RM) tem registadas bandas para cobrir o território nacional e ainda dá para ouvir nos países limítrofes, principalmente nas regiões junto à fronteira moçambicana.

         A estação oficial de rádio que hoje conhecemos por Rádio Moçambique, começou por se chamar “Grémio dos Radiófilos” quando foi fundada em 1933. Como o governo colonial não tolerava “Grémios”, cinco anos mais tarde tomou o nome de “Rádio Clube de Moçambique”. Após a independência, como o partido no poder não autorizava “Clubes”, passou a chamar-se simplesmente “Rádio Moçambique”.

         Como vimos, a Frequência Modulada (FM) tem alcance local. Raramente se ouve para além de certos limites, mas oferece uma qualidade de som superior. A Rádio Moçambique tem três emissores de FM em Maputo (Antena Nacional, Rádio Cidade e Maputo Corridor). Em FM também se escuta a Antena Nacional em Xai-Xai, Beira, Quelimane, Tete, Nampula, Lichinga e Pemba, através dos respectivos emissores locais.
         A Onda Média tem maior alcance do que FM e, à noite, pode viajar centenas de quilómetros e ser escutada longe, se não houver outro emissor na mesma frequência (kHz) ou comprimento de onda (metros) – a Onda Média não tem bandas. Este é o meio mais utilizado para cobertura intermédia e a RM tem quatro emissores de Onda Média em Maputo e um em cada uma das seguintes cidades: Inhambane, Beira, Chimoio, Quelimane, Tete, Nampula, Lichinga e Pemba.

         A Onda Curta é, de facto, uma realidade separada. É um meio de informação, que salta fronteiras sem passaporte, nem qualquer autorização...
         A Rádio Moçambique tem, desde os anos “quarenta”, emissores de Onda Curta na Matola, a poucos quilómetros de Maputo.
         Utiliza as bandas de 90 – 61 – 49 – 31  e  25 metros. A banda de 91 m à noite e para mais perto; a de 25 m de dia e para mais longe... Isto teoricamente, porque quando é Inverno na Europa, à noite, rádio escutas de países nórdicos, equipados com receptores de comunicações, conseguem ouvir Maputo na banda dos 90 metros!

         UM POUCO DE HISTÓRIA...
         Vamos agora recuar aos anos “sessenta” em Moçambique, quando ainda só havia Emissores Provinciais em Nampula, em Quelimane e em Pemba.
         Um ouvinte que estivesse na cidade Inhambane, onde o emissor só abriu em 1972, apenas tinha a possibilidade de escutar rádio em Onda Curta. As rádios mais próximas estavam em Maputo (Rádio Moçambique) e na Beira (Emissora do Aero Clube e Rádio Pax).

         A opção natural, em termos de qualidade de programas, facilidade de recepção e horas de emissão, recaía sobre a Rádio Moçambique, em Maputo.
         De manhã cedo, começava por se ouvir a emissão em língua portuguesa na banda dos 91 metros. Pelas sete horas já se ouvia melhor em 61 metros e a partir das nove ou dez horas mudava-se o ponteiro do rádio para os 49 metros. Na época mais quente do ano também se ouvia em 31,  25  e  19 metros, mas estas bandas eram destinadas ao Centro e Norte do País.
         À noite fazia-se a “viagem” de regresso: pelas 18 horas escutava-se em 61 metros e, pela noite dentro, até ao fim da emissão, em 91 metros.
         À noite, os mais curiosos notavam que, na banda dos 90 metros se escutava também África do Sul, o Zimbabwe e a Emissora do Aero Clube da Beira (fraco). A SABC (South African Broadcasting Corporation) Corporação de Radiodifusão da África do Sul, tinha um serviço em Inglês, outro em Afrikaans e um comercial (a Springbok Radio) nesta banda dos 90m.
         Na banda dos 75 metros, também à noite, aparecia a Rádio Pax da Beira, que fechava às 23.00 horas e era a outra alternativa para quem escutasse rádio em Inhambane.

         Nos anos “sessenta”, durante o dia, na banda dos 49 metros, também se escutavam os três canais da SABC da África do Sul, embora se obtivessem melhores condições nas bandas dos 31 e 25 metros.
         Quem quisesse ouvir, nessa época, países americanos ou europeus, teria de sintonizar os 13m durante o dia e os 16m à noite. Também apareciam algumas estações de países distantes na banda dos 11m, que corresponde às frequências mais altas da Onda Curta.
         Quem estivesse no Sul de África, poderia ouvir, por exemplo, na banda dos 13m, a “Voz da América” em 21690 kHz, Lisboa em 21700 e a BBC de Londres em 21710, todas seguidas. Em 21590 escutava-se a Suíça e a ORTF de Paris em 21600, por exemplo...

         À PROCURA DE INFORMAÇÃO
         A autoridade colonial mantinha uma “Comissão de Censura”, destinada a filtrar a informação que chegava ao público através da rádio e dos jornais. Os mais velhos lembram-se, certamente, que no canto superior direito dos jornais aparecia, bem visível, a inscrição VISADO PELA COMISSÃO DE CENSURA.
         Este procedimento era e continua a ser comum a todos os regimes de partido único, pelo que as pessoas tinham necessidade de obter informação alternativa, não dependente da propaganda oficial.
         Há quarenta anos o meio mais seguro, que não tinha existência física, nem deixava vestígios, era a escuta da Onda Curta, que chega a todo o lado sem precisar de meios de transporte ou vias de comunicação... Quem vivesse em zonas sem emissoras de rádio, usava o seu receptor de todos os dias para o fazer.
Uma das emissoras mais ouvidas era a “Rádio Brazaville”, que transmitia um noticiário em Português a partir da capital da República do Congo. À hora certa ouvia-se o indicativo da estação em língua francesa:
-         Ici Brazaville, Office de Radiodiffusion Television Française.
Eram os serviços africanos da ORTF de Paris, que tinha estúdios e emissores na cidade de Brazaville, ao abrigo de uma acordo entre a França e a República do Congo. Como se tratava de um país com uma democracia parlamentar estabelecida, considerava-se que a França proporcionava uma informação pluralista de confiança.

Declaração Universal dos Direitos do Homem
Artigo 19.º
     Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e espalhar, sem consideração de fronteira, as informações e as ideias por qualquer meio de expressão.


O IMPÉRIO COLONIAL
No ano de 1961 registaram-se acontecimentos importantes para Portugal e para as colónias portuguesas:
-         Em Janeiro, o paquete “Santa Maria” foi tomado de assalto por opositores ao regime de Lisboa;
-         Em Fevereiro registou-se o ataque à prisões de Luanda, em Angola.
-         No mês seguinte verificou-se derramamento de sangue no Norte de Angola. 
– Ainda em 1961, em Dezembro, a União Indiana anexou Goa, Damão e Diu – o chamado “Estado Português da Índia” – e Portugal perdeu também o enclave de São Baptista de Ajudá, na África Ocidental.
Tanto a “Emissora Nacional” de Lisboa, como a “Emissora Oficial de Angola”, como ainda o “Rádio Clube de Moçambique”, todas controladas pela autoridade portuguesa, apresentaram a versão oficial dos acontecimentos. Não existia liberdade de informação, nem pluralismo no pensamento, nem debate de ideias, pelo que também não havia uma opinião pública esclarecida.
Mais uma vez entra em cena a Onda Curta para obviar estes inconvenientes e preencher este vazio no direito à informação.
Quem dominava a língua inglesa nos países do Sul de África, tinha como escolha natural a escuta da BBC de Londres, na procura de fontes alternativas. Ainda hoje esta emissora mantém, na informação que apresenta, uma linha independente e objectiva, mesmo quando o Reino Unido está envolvido nos acontecimentos (caso da Guerra das Malvinas, em que a BBC dava a mesma relevância tanto aos comunicados ingleses, como aos argentinos).
Quem tinha apenas acesso à língua portuguesa, escutava a Rádio Brazaville e, durante algum tempo, a Rádio Katanga, na banda dos 25 metros.

Estava-se em plena “guerra fria” e emissoras de países antagónicos, como a Rádio Moscovo e a Voz da América, faziam a leitura que mais lhes interessava destes e de outros acontecimentos de todo o Mundo.
Para quem mantinha a independência de opinião, era interessante observar como o mesmo assunto poderia ter interpretações diferentes, conforme a proveniência da emissão...
À noite, algumas pessoas também escutavam Moscovo em língua portuguesa, na banda dos 31 metros.
Para contrariar as ideias disseminadas pela Rádio Moscovo, a Emissora Nacional, de Lisboa, apresentava o programa “A verdade é só uma: Rádio Moscovo não fala verdade”. E lá aparecia outra “verdade”, a versão de quem falava, a que se seguia outra realidade, e depois outra interpretação e assim sucessivamente...

         A partir destes casos concretos, já aqui falámos de bandas ou comprimentos de onda (em metros) e em frequências (kHz ou Kc/s).
         Olhando para um receptor de rádio tradicional, dito “analógico”, vê-se um ponteiro, que percorre um quadrante cheio de indicações escritas. Estas indicações referem-se às bandas que o rádio pode receber:
-         FM (Frequência Modulada), em megahertz (MHz), dos 88 aos 108;
-         Onda Curta, em metros (dos 11 aos 120, os rádios mais completos), que correspondem a kHz (dos 1711 aos 30 000).
-         Onda Média, em metros (dos 577 aos 175), que correspondem a kHz, (dos 520 aos 1710);
-         Onda Longa, em kHz, dos 153 aos 519. Na África Austral não se vendem, normalmente, rádios com esta Onda Longa, porque não existem aqui, nem nas Américas, emissoras a transmitir nessas frequências. Esta Onda é habitualmente usada por emissoras de rádio noutros pontos do Mundo, algumas utilizando transmissores de milhares de Kw de potência (são bem conhecidas a R. Montecarlo, a R. Luxemburgo e R. Europa 1).

Vamos ver com mais atenção as bandas da Onda Curta, utilizadas  pelas estações de rádio difusão, quer sejam oficiais, particulares, religiosas, piratas ou clandestinas.
Podemos começar pelas chamadas “bandas tropicais” (120m, 90m e 60m), assim chamadas, porque são utilizadas por estações de rádio de países situados nos trópicos:

-                     Banda dos 120 m (2300 a 2495 kHz): em língua portuguesa, emitem nesta banda seis estações brasileiras com pequenos emissores, entre os 2380 e os 2490 kHz (Rádio Educadora, R. Transamazónica, R. São Carlos, R. Alvorada, R. Cacique e R. Oito de Setembro). A mais potente, com 5 Kw, é a Transamazónica, em Senador Guiomard, no território do Acre.
Na América Latina aparecem nesta banda duas emissoras da Venezuela e duas do México.
É interessante verificar que, embora se trate de uma banda tropical, emite aqui uma estação norte-americana, do Estado do Tennessee, com 100 Kw e programas religiosos em língua inglesa destinados à África Central.
Também aparecem estações da Austrália, que apresentam programas em língua local (aborígene) e inglês. Estas emissões têm origem em Alice Springs, no Território do Norte e que tem a frequência mais baixa, em Onda Curta, registada em todo o Mundo (2310 kHz).
Outros países que têm estações de rádio nesta banda são a Bielo Rússia, Indonésia, Coreia do Norte, Israel, China.
Apesar disso, podemos dizer que, actualmente, não há muitas estações de rádio a transmitir na banda dos 120 metros, Onda Curta.
É interessante verificar que, já fora desta banda, está um emissor de 100 Kw da República Malgache na frequência de 2643 kHz.
Aliás, é habitual encontrar-se estações a emitir fora das bandas internacionalmente consideradas. A China é um exemplo, mas a R. Vaticano também tem registadas duas frequências fora das bandas, como verificaremos.

-                     Banda dos 90 m (3200 a 3400 kHz):é nesta banda que transmite a Rádio Moçambique, nos períodos da manhã e da noite, de Maputo, da Beira e de Nampula. Em língua portuguesa estão também várias emissoras brasileiras, Angola e África do Sul. Perú, Bolívia, Venezuela, Equador, Honduras, Guatemala, etc., são emissoras da América Latina que emitem em espanhol nesta banda. Também está aqui a R. Rebelde, de Havana, Cuba, 24h por dia. Países africanos, como Suazilândia, África do Sul, Namíbia, Botswana, Malawi e outros aparecem nesta banda em língua inglesa. Em francês, ouvem-se emissoras de Madagáscar, Togo, Níger, Congo, Zaire, etc..
A frequência da Rádio Moçambique (3210 kHz) é também utilizada por uma emissora norte-americana, do Tennessee. Claro que não há hipótese de interferência, porque a distância é muito grande e esta banda não se destina a ter grande alcance. Entre as oito e as nove da noite, hora local, a Rádio Moçambique (Maputo), em 3210, é interferida pela África do Sul, que está a essa hora na frequência vizinha de 3215 kHz. Esta situação deve verificar-se em Inhambane, por exemplo, onde a alternativa poderá ser a banda dos 60 metros ou, então, pode tentar-se os 407 metros, Onda Média (melhor nos meses mais frios).


- Banda dos 60 m (4750 a 5060 kHz): nesta banda emitem estações de rádio dos cinco continentes. Moçambique tem aqui os emissores de Maputo, Pemba e Nampula.
Angola está presente em força com os Emissores Provinciais de Cuando Cubango, Huíla, Uíge, Lunda Sul, Zaire, Bié, Malange, Cabinda, Namibe, Benguela e Huambo, além da própria Rádio Nacional de Angola.
              De São Tomé está o retransmissor da Voz da América, com programas em hausa, francês e inglês.
              Entre muitos outros países, podem ser encontradas estações de rádio da Suazilândia (Trans World Radio), Tanzânia, Zimbabué, Zâmbia, Botsuana e Lesoto.
              De entre as várias estações brasileiras, que emitem na banda dos 60m, há possibilidade de ouvir a Rádio Cultura Ondas Tropicais, de Manaus, na Amazónia, que usa um potente emissor de 250 Kw.
              Na frequência de 5000 kHz (ou 5 MHz), 60 metros certos, estão emissoras diferentes, que emitem sinal horário, da Venezuela, Guiné Equatorial e Rússia.
Havia em Olifantsfontein, na África do Sul, uma destas emissoras nesta frequência, 24 horas por dia, que pertencia ao Concelho Sul-Africano para a Investigação Científica e Industrial. Ouvia-se o pulsar dos segundos, como se fosse um relógio a funcionar, com um sinal horário a cada minuto.
Embora noutras frequências, havia em Maputo a “Rádio Naval”, que transmitia estas informações horárias durante poucos minutos por dia. Quem enviasse um relatório de escuta para a Caixa Postal 2267, Maputo, recebia uma carta de confirmação.

Tratámos até aqui das bandas tropicais, usadas quase sempre para os serviços domésticos, isto é, para o interior de cada país. Como, nos países tropicais as regiões a cobrir são grandes e pouco povoadas, a Onda Curta nestas frequências mais baixas são a solução, nas primeiras horas com sol e a patir do fim do dia.
Passamos agora às chamadas “bandas internacionais”, que, embora usadas também para os serviços domésticos de alguns países dos trópicos, servem de igual modo para os serviços externos. De manhã cedo e à noite utilizam-se as bandas correspondentes a frequências mais baixas; durante o dia procede-se de modo contrário.

-                     Banda dos 75m (3900 a 4000 kHz): esta banda é “frequentada” por cinco ou seis estações da Europa, aparecem vários países asiáticos e até a Nova Zelândia e o Peru. De África está Angola, com o Emissor Provincial da Huíla; e os Camarões.
Ligeiramente fora desta banda, em 4005 kHz, transmite a Rádio Vaticano em várias línguas, de manhã cedo e à noite. Utiliza um emissor de 10 Kw para a Europa Central.
Já foi uma banda muito frequentada, onde se podia, antigamente, sintonizar a Suíça, a África do Sul e até Moçambique (Rádio Pax da Beira).

-                     Banda dos 49m (5900 a 6250 kHz): esta é uma banda muito interessante, que traz grandes desafios a quem se dedica a sério à escuta da Onda Curta, onde costumam transmitir emissoras de mais de cem países, de “A” de Afeganistão, Albânia e Argentina a “Z” de Zâmbia e Zimbabué... Ouvem-se nesta banda também mais de cem línguas e dialectos, que inclui o Galego e o Basco falados, em regiões autónomas de Espanha; o Esperanto, língua simples e regular, criada por um polaco para as mais diversas pessoas se entenderem; e até o Latim, língua morta falada pelos antigos romanos; a língua inglesa, o francês, o chinês estão muito presentes nesta banda.
Também a língua portuguesa aqui aparece nas emissões da Rádio Moçambique (Maputo e Beira), Angola (Emissor Provincial de Benguela), Voz da América, RAI de Itália, BBC de Londres, Rádio Pequim, Trans World Radio da Suazilândia, Canal África da África do Sul, a americana WYFR e cerca de 25 estações brasileiras.
Do mesmo modo estão nesta banda esse fenómeno, que coloca as estações mais próximas dos seus ouvintes: os retransmissores. Em São Tomé há retransmissores da “Voz da América”, que emitem programas em inglês para a África Ocidental; na África do Sul, que, para além do Canal África, retransmite programas da BBC de Londres, da “Rádio Mundial Adventista” e do “Farol do Mundo”, sendo estas duas religiosas; e em Sines, Portugal, onde se situam emissores da “Voz da Alemanha”. Normalmente o som chega via satélite e é transmitido pelos emissores de Onda Curta, situados muito mais próximo da área de destino do que os estúdios onde o programa tem origem.
Na banda dos 49 metros, com tanta quantidade de emissores, é de esperar que eles tenham as potências mais variadas: os mais fracos (com apenas uma centésima de quilo uóte) são de uma emissora comercial no Canadá e de uma rádio clandestina na Colômbia...
Os serviços são também os mais diferenciados: programas nacionais, provinciais ou regionais; externos, internacionais ou ultramarinos; educacionais, universitários ou humanitários; comerciais, para minorias ou de informação económica. Enfim, uma variedade imensa de destinatários!
São estas e outras características que fazem da Onda Curta um  meio tão especial de comunicação.

Em frequências fora da banda dos 49 metros aparecem várias estações, algumas delas a emitir em língua portuguesa: é o caso da Rádio Nacional de Angola, em 5500 kHz; da Rádio Vaticano, em 5883 kHz, para a Europa; e da Voz da América, em 5890 kHz, para África, de manhã.
Na frequência atrás indicada, da parte da manhã e também à noite, a Rádio Vaticano transmite, além do Português, em Árabe e em 12 línguas para a Europa.
Mais abaixo, em 5875 kHz, a BBC emite em dez línguas, de “A” de Azeri a “U” de Ucraniano, principalmente para a Europa.
Em frequências mais altas do que as da banda dos 49 metros, ou seja, já a caminho da banda dos 41 metros, encontram-se principalmente estações clandestinas de resistência e de libertação popular. No entanto, também aparecem “serviços externos”, como é o caso das rádios oficiais de Taiwan, de Israel e, principalmente, da Coreia do Norte, que apresenta aqui programas em sete línguas diferentes.


Banda dos 41m (7100 a 7350 kHz): embora os limites desta banda sejam os indicados entre parêntesis, são utilizadas frequências até aos 7580 kHz de uma forma muito intensa, pelo que se pode dizer que as emissoras se encarregaram de alargar a banda... Numa amplitude tão grande de frequências, aparecem estações dos quatro cantos do Mundo, emitindo em todas as línguas. Em língua portuguesa, além de Angola e Moçambique, ouve-se a BBC de Londres, a Voz da América, a Rádio China Internacional, Voz da Rússia, Vaticano, Rádio Trans Mundial e WSHB dos Estados Unidos.
Moçambique está presente com a Emissão Nacional em Português e com a Emissão Inter Provincial em Português e Tsonga.
Angola tem aqui a Huíla, Huambo, Lobito, Cuanza Sul, Benguela e Luanda.
São Tomé aparece com os retransmissores da Voz da América em Português, Hausa e Inglês para a África Ocidental e Central.
A África do Sul tem retransmissores da BBC de Londres, da TWR (Trans World Radio), de FEBA Sheychelles e da Rádio França. Transmite também nesta banda a Rádio Sonder Grense em Afrikaans.
Da Suazilândia emite a TWR (Rádio Trans Mundial) em Português, Macua e Inglês. Ouve-se o “General Service” da Rádio Tanzânia, em Swahili.
Durante o dia também se ouve o Zimbabué em Inglês e Shona.
Nesta banda dos 41 metros ouvem-se “serviços mundiais” da Rádio França e da Voz da Rússia; “estações regionais” de Benim e da Indonésia. A Voz da Rússia tem também aqui uma emissão especialmente dirigida aos marinheiros russos. A Voz da América apresenta noticiários em “Inglês especial”, isto é, Inglês falado devagar para que os ouvintes menos habituados àquela língua possam perceber o conteúdo do programa.
A “Voz do Sahel” é emitida em Francês pela Rádio Níger; e da Eritreia transmite  “A Voz das Amplas Massas”, em Inglês. Tudo nesta banda dos 41 metros.
Pode dizer-se que a banda dos 41 metros começa onde acaba a banda dos 40 metros dos rádio amadores e, oficialmente, acaba nos 7350 kHz. No entanto, ela avança a caminho da banda dos 31 metros, embora comecem a rarear as estações a partir dos 7580 ou 7600 kHz. É, portanto, uma grande banda, onde é possível passar-se horas à procura de estações de todo o Mundo. Durante o dia, permite ouvir estações mais ou menos próximas. Mas, à noite, proporciona a escuta de países longínquos (na Europa, no Inverno, à noite escuta-se, por exemplo, a Índia e a África do Sul!). O frio ajuda a propagação...

Um exemplo de estação de rádio a emitir fora das bandas de rádio difusão é a Voz do Irão. Utiliza a frequência de 9022 kHz, ou seja, aproximadamente o comprimento de onda de 33 metros. Utiliza um emissor de 350 Kw para transmitir, das seis horas da tarde até depois das duas horas da manhã, programas em Inglês, Italiano, Turco, Alemão, Francês, Espanhol e Árabe. A “modulação” não é perfeita (o som é algo distorcido), mas a intensidade de sinal é boa (o emissor é potente e as antenas de emissão estão bem dirigidas).
Em frequências já próximas do início da banda dos 31 metros, aparece a Rádio Pyongyang, da Coreia do Norte, a emitir em diversos horários e em várias línguas asiáticas e europeias.
Outras emissoras que aparecem por aqui são a Rádio Taipé, a Rádio Internacional da China e a Voz da Grécia. Com menos presença estão emissoras da Ucrânia e do Paquistão.


-         Banda dos 31m (9400 a 9990 kHz)
A frequência mais baixa desta banda, 9400 kHz, tem sido ocupada pela Rádio Bulgária, que transmite para os Estados Unidos e para a Europa, de manhã cedo e após o pôr do sol, em Búlgaro, Inglês, Francês e Alemão, com um potente emissor de 500 Kw.
Na frequência mais alta, 9990 kHz, transmite Rádio Cairo, durante cerca de quatro horas à noite, em Alemão, Francês e Inglês, para a Europa com um emissor de 250 Kw.
         Entre estas duas, aparecem estações de todo o Mundo. Embora algumas estações possam ser ouvidas ao longo de todo o dia, a melhor hora para escutar esta banda internacional é à noite. Logo a partir do fim da tarde, as condições de escuta começam a abrir; conforme a manhã avança, a propagação começa a fechar.
         Mais de cem países aparecem nesta banda, apresentando os seus programas em mais de 130 línguas.
         Apenas um parágrafo para dizer que, em toda a Onda Curta, são transmitidos programas de rádio em quase 300 línguas e dialectos! Se não houvesse outras razões, esta realidade seria, só por si, um argumento para considerar a rádio o meio mais importante de difusão de notícias, ideias e tudo o que está implícito nos programas das estações...
         A Rádio Moçambique está aqui presente com a Antena Nacional de Maputo (9620 kHz) e da Beira (9635 kHz) e com a Emissão Interprovincial de Maputo e Gaza (EIMG) em 9525 kHz durante todo o dia e parte da noite.
A Rádio Nacional de Angola transmite das 05.00 da manhã até à meia noite, ao lado da EIMG, em 9535 kHz, com 100 Kw de potência.
De São Tomé transmite a Voz da América, em quatro ou cinco frequências diferentes, para  África Ocidental.
Da África do Sul ouve-se nesta banda dos 31 metros o próprio Canal África (em Inglês, Português, Francês e Swahili), além de retransmissões de programas da BBC de Londres, Rádio Transmundial e Rádio Adventista, entre outras. Uma vez por mês, ao Domingo de manhã, também é transmitido o programa da Liga dos Rádio Amadores da África do Sul.
A Rádio Trans Mundial transmite da Suazilândia programas em Swahili, Inglês, Francês, Lingala e outras línguas.
A Zâmbia tem nesta banda uma estação de rádio, que transmite durante o dia, em Inglês – “A Voz Cristã”.
Para além dos serviços que já deixámos entrever ao descrevermos esta banda dos 31 metros, aparecem aqui os mais diversos géneros de emissão; “conversa entre cubanos” e “forum militar cubano” são programas de exilados; do Iraque transmite a Rádio “Mãe de Todas as Batalhas”, frase que ficou conhecida durante a guerra do Golfo; para além dos serviços habituais, existe ainda um programa para russos no mar, rádios de movimentos de libertação, de estudantes universitários, clandestinos de inspiração política, etc..
Logo a seguir à Rádio Cairo, que ocupa a frequência mais alta desta banda dos 31 metros, aparece uma estação russa, que transmite sinais horários.
Seguem-se as frequências das transmissões aeronáuticas e, a caminho da banda dos 25 metros, aparecem estações de rádio muito espaçadas umas das outras: China, Índia, Coreia do Norte e a Islândia.
A Islândia é um caso interessante de estação que transmite fora das bandas habituais. Estão neste caso as frequências de 9275 kHz (32,35 metros) e de 11402 kHz (26,3 metros); por vezes utiliza outras duas, que estão quase no fim das bandas dos 22 e dos 19 metros.
Pouco antes do início da banda dos 25 metros escutam-se a Rússia, Taiwan, Austrália, Paquistão, Índia, algumas emissoras religiosas americanas, etc..


-                     Banda dos 25m (11600 a 12100 kHz): a banda dos 25 metros começa com a Rádio China Internacional e termina com a BBC de Londres. Nesta banda escutam-se imensas emissoras internacionais a qualquer hora do dia.
Escuta-se também a Antena Nacional da Rádio Moçambique, em 11820 kHz, com 100 ou 120 Kw de potência, sensivelmente das sete da manhã às sete da tarde. Actualmente é a frequência mais alta da rádio moçambicana, uma vez que o antigo emissor de 19 metros parece não estar no ar. Este emissor escutava-se na frequência de 15285 kHz e tinha uma potência de 120 Kw.





Sinto-me tentado em falar aqui das marcas de alguns emissores utilizados pela Rádio Moçambique:
-         “Brown, Bovery and Company”, da Suíça, que agora se chama “Thomcast”;
-         “Continental”, do Texas, EUA;
-         “Gates”, também americano, que mudou o nome para “Harris”;
-         “Philips”, fabricado na Holanda;
-         “RCA”, Radio Corporation of America, que agora é a “General Electric”;
-         “Standard” da Austrália, que entretanto mudou o nome para “Alcatel”;
-         “RIZ”, Radio Industry Zagreb, da Croácia, de 1994, com 20 Kw, que parece ser o emissor mais recente da Rádio Moçambique.


Mas voltando à banda dos 25 metros, “falam-se” aqui mais de cem línguas e emitem quase cem países, tal como nas bandas internacionais mais utilizadas.
Em Português, além de Moçambique, Angola e Brasil, escutam-se os serviços externos de França, China, BBC de Londres, Argentina (para o Brasil), Itália, Voz da América, Voz da Alemanha, Roménia, Rússia, Síria e Vaticano.
Há um serviço em língua “Maconde” da FEBA, Associação Missionária de Radiodifusão, a transmitir das Ilhas Seicheles.
Há outro em Zulu, proveniente da Rádio Cairo.
Duas vezes por semana, os habitantes das Ilhas Falklands, ou Malvinas, no Atlântico Sul, têm direito a um programa da BBC de Londres, que lhes é especialmente dedicado nesta banda, em língua Inglesa (Falklands Calling).
A Arábia Saudita faz aqui as suas emissões inteiramente preenchidas com o Santo Corão.
A “Voz Democrática do Bornéo” também aqui transmite os seus pontos de vista; bem como a “Voz do Povo Iraquiano”, que emite da Arábia Saudita um programa contra o regime de Sadam Hussein.
Apresentam-se nesta banda dos 25 metros três “Vozes”: a “Voz de África” (Líbia), a “Voz dos Árabes” (Egipto) e a “Voz da Caridade (Vaticano).
A Rádio Nacional de Espanha aparece nesta banda com programas em línguas nacionais autonómicas (Basco, Catalão e Galego).
Enfim, um manancial de estações de todo o Mundo para quem queira explorar sistematicamente esta banda internacional.

Entre as bandas dos 25 e dos 21 metros, para além de algumas estações de radiodifusão, podem escutar-se durante o dia muitas comunicações marítimas, entre os barcos, dos barcos para terra e de terra para os barcos. As frequências mais altas, a caminho da banda dos 21 metros, são utilizadas para as comunicações dos aviões.


-         Banda dos 21m (13500 a 13870 kHz)
Existe uma organização, que decide quanto às bandas de radiodifusão, e que se chama, em Português, mais ou menos isto: Conferência Mundial Administrativa de Rádio para o Planeamento das Bandas de Radiodifusão em Alta Frequência. Claro que existe uma abreviatura, a partir do nome original em Inglês e essa abreviatura é simplesmente “WARC”.
Vem isto a propósito desta banda dos 21 metros, que é relativamente recente. Em 1979 a WARC concordou em alargar algumas bandas já existentes e em criar a nova banda dos 21 metros. Naquela época a banda foi fixada entre as frequências dos 13600 e 13800 kHz.
Antes de esta banda ser criada, a Rádio Pequim já transmitia em 13700 kHz, com 20 Kw de potência. Em 1983, Rádio Pequim já não estava na banda, mas o Paquistão aparecia em 13605 kHz (com 250 Kw de potência) e Israel em 13720 kHz (com 300 kW). O Iraque apareceu em 1984 com 500 Kw em 13700 kHz.
A banda dos 21 metros começou a ter mais expressão em 1985, quando a antiga União Soviética transmitia em nada mais nada menos do que em 15 frequências diferentes. O Paquistão e Israel retiraram-se da banda, o Iraque permaneceu e apareceram o Bangladesh (em 13670 kHz com 250 Kw), o Irão (13745 kHz) e a Holanda (13770 kHz), com 500 Kw cada um.
Esta banda oferece boas condições de escuta durante o dia e ao começo da noite. Com o avançar da noite e madrugada, procuram-se frequências mais baixas.
A primeira estação que se ouve – em 13570 kHz – costuma ser a WIBN “Leão Vermelho”, dos Estados Unidos.
Encontram-se nesta banda estações de rádio de cerca de 50 países, que transmitem em pouco mais de 50 línguas, o que significa uma menor procura em relação a outras bandas de radiodifusão. Encontram-se as mais diversas potências, desde 1 Kw, de uma estação das Filipinas, aos 600 Kw da Rádio China. Aparecem os serviços habituais da Onda Curta: externos, estrangeiros, internacionais, ultramarinos, etc., de carácter religioso (a Arábia Saudita com o Santo Corão) e uma rádio da Universidade de Dallas, Texas, EUA; a Voz da América também está nesta banda – através dos seus retransmissores em São Tomé e no Botswana - com os habituais serviços VOA Africa, VOA Notícias Agora, VOA Inglês Especial (pausadamente, para quem o Inglês funciona como 2.ª língua).
Madagáscar está representado nesta banda dos 21 metros pelo retransmissor da Rádio Nederland, que partilha com a Rádio Canadá, com a Bélgica e com a Rádio “Voz da Esperança”.
Em Português transmitem Rádio Portugal, Voz da América, Voz da Alemanha, BBC, Vaticano e Rádio Damasco da Síria (para o Brasil, eventualmente escutada em África).
A última estação que se ouve nesta banda dos 21 metros é a Islândia – em 13865 kHz – com um emissor de 10 Kw para a Europa em “banda lateral superior”, ou seja, apenas escutada por quem utilize um “receptor de comunicações”.

Entre rádio amadores ou em alguns programas destinados a rádio escutas, utiliza-se a Banda Lateral Única (BLU), que se divide em Banda Lateral Superior (BLS) e Banda Lateral Inferior (BLI).
Para quem veja e entenda o que vem indicado num desses “receptores de comunicações”, devo esclarecer que, em Inglês, diz-se, respectivamente: SSB (Single Side Band), USB (Upper Side Band) e LSB (Lower Side Band).
         A vantagem da utilização das “bandas laterais únicas” é a maior facilidade de propagação dos sons emitidos. Um rádio normal apenas recebe as emissoras de radiodifusão, que transmitem em ambas as bandas.

         Faremos aqui um intervalo para falar dos tipos de receptores, que estão à disposição dos ouvintes de Ondas Curtas:
-         Rádios de Ondas Curtas: cobrem parte das bandas de ondas curtas, como por exemplo dos 19 aos 90 metros, como era o caso do “Xirico”, um óptimo aparelho construído nos anos 70/80 pela FAE (Fábrica de Aparelhos Electrónicos), de Maputo, Moçambique. Estes rádios costumam ter Onda Média – era também o caso do “Xirico” – mas não apanham comunicações em Banda Lateral Única (SSB).
-         Rádios de Cobertura Geral: que tem toda a Onda Curta, dos 11 aos 120 metros, além da Onda Média, mas que também não sintonizam as comunicações em SSB. Estão neste grupo os rádios “domésticos” mais completos, a válvulas ou a transístores.
-         Receptores de comunicações: os que têm toda a Onda Curta, Onda Média e Onda Longa. Geralmente começam na frequência de 150 kHz (início da Onda Longa) e acabam em 30 mil kHz, comprimento de onda de 10 metros. Além das estações de radiodifusão, recebem também comunicações em SSB (rádio amadores, código Morse, etc.).
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 Os receptores de comunicações dos anos “sessenta”, não tinham Onda Longa: cobriam dos 540 kHz (555 metros, Onda Média) até aos referidos 10 metros.
Estes eram alguns dos comandos:
-         Um ganho de RF (rádio frequência) para aumentar a sensibilidade, quando a estação era muito fraca;
-         Um “mute line” para tirar o som, quando, por exemplo, o receptor era utilizado em conjunto com um emissor;
-         S Meter: para medir a potência do sinal da estação que se recebia;
-         BFO: para sintonizar melhor as emissões em SSB;
-         Um ajuste de antena, que se fazia girar para tirar maior rendimento da antena a que o receptor estava ligado;
-         Um ajuste de mostrador, para acertar a frequência sintonizada;
-         Bandspread: servia para desdobrar as frequências do sintonizador principal, de modo a sintonizar melhor o que se queria escutar;
-         Um Calibrador para determinar frequências (os receptores deste tempo eram de sintonia analógica);
-         Um AVC para diminuir as falhas de propagação;
-         Controle de selectividade, para evitar as interferências;
E muito mais botões, que hoje se dispensam, porque os modernos receptores de comunicações têm afixação digital de frequência e várias funções automáticas, que os tornam muito eficazes.
Os antigos receptores de comunicações precisavam de algum tempo para aquecer; só depois de quentes é que se tornavam mais estáveis, sem que a frequência variasse tanto; por isso, tinham o alto-falante à parte, para evitar que a sua vibração alterasse a estabilidade de recepção e que fosse preciso acertar a sintonia durante toda a escuta.



-         Banda dos 19m (15100 a 15800 kHz)
A Emissão Nacional da Rádio Moçambique costumava aparecer nesta banda, na frequência de 15295 kHz, com uma potência de 120 Kw, durante todo o dia das seis da manhã às sete da tarde, sensivelmente. No entanto, há vários anos que ninguém consegue ouvir Maputo nesta banda.
Ouvem-se algumas emissoras brasileiras nos 19 metros. A que se ouvia melhor – Rádio Nacional do Brasil - deixou de transmitir em 15265 kHz os seus programas em Português, Inglês e Alemão para a Europa. À noite escutam-se, por vezes, fora do Brasil, a Rádio Record e a Rádio Globo de São Paulo. A Rádio Inconfidência de Belo Horizonte é difícil de escutar fora do Brasil. O mesmo se pode dizer da Rádio Timbira de São Luís do Maranhão, da Rádio Gazeta de São Paulo e do Rádio Clube de Ribeirão Preto.
Durante muitos anos, a BBC de Londres transmitiu nesta banda, em 15070 kHz. Já nos anos “noventa” foi pedido por um serviço público que se retirasse daquela frequência, porque causava interferência.
No entanto, hoje em dia, Taiwan utiliza a frequência vizinha de 15060 kHz e a Índia (All India Radio) está em 15075.
A BBC, entretanto, seleccionou para o seu “Serviço Mundial” em Inglês, nesta banda, quase trinta frequências diferentes, entre os 15105 e os 15575 kHz.
Uma estação interessante aparece também fora da banda dos 19 metros, em 15050 kHz: trata-se da Rádio para a Paz Internacional, que transmite da capital da Costa Rica (San José), na América Central. Dirige as suas antenas para a América do Norte, mas também pode ser ouvida na Europa em Inglês, Russo, Francês, Alemão e Espanhol.
A banda dos 19 metros é tipicamente uma banda internacional, com países de todo o Mundo aqui presentes em todas as línguas.
A Rádio Nova Zelândia transmite nesta banda para o Pacífico, mas é facilmente escutada, por exemplo, na Europa.
Para além das emissoras brasileiras atrás referidas, transmitem em Português nesta banda emissoras como o Canal África de Joanesburgo; a Voz da América, a WSHB e a WYFR dos Estados Unidos Unidos; BBC de Londres, Portugal, França, Itália, Roménia e Vaticano; Egipto (Rádio Cairo), China e Japão para o Brasil; e também a emissora HCJB (A Voz dos Andes) da República do Ecuador.
No extremo da banda aparecem estações como o “programa de libertação” da Voz do Tibete e Etíopes para a Democracia em dialecto Oromo; por motivos técnicos tem interesse a Rádio Tele Liberdade, que transmite em Banda Lateral Superior (BLU/USB) de Gbadolite, República Democrática do Congo.


-         Banda dos 16m (17480 a 17900 kHz)
Chegamos agora à banda internacional dos 16 metros, uma das mais usadas para emissões a longa distância, principalmente durante o dia.
Antes de entramos nesta banda, encontramos faixas que são usadas, durante o dia, para transmissões de navios e também de aviões. Tudo, é claro, em SSB (banda lateral única).
No início da banda dos 16 metros aparecem a Rádio Praga e All India Radio.
Numa banda destinada a emissões a longa distância, seria de esperar que se encontrassem emissores de alta potência. Isso é verdade, uma vez que aparecem emissores de 50 Kw, de 100, muitos de 250 e de 500 Kw. O mais potente parece ser da Voz da Rússia, que declara mil Kw!
No entanto, o que torna interessante a escuta das Ondas Curtas é o aparecimento, por entre a multidão de estações potentes, de algumas que só muito dificilmente serão ouvidas fora da área a que se destinam.
Aqui na banda dos 16 metros aparecem duas estações brasileiras nestas condições: a Rádio Cultura de São Paulo e a Rádio MEC, com estúdios na Praça da República, no Rio de Janeiro.
O Brasil transmitia em Português para África em 17750 kHz. Nesta banda aparecem ainda algumas emissões em língua portuguesa, nomeadamente do Canal África, da Voz da América, Vaticano, França, Alemanha e Portugal.
Juntamente com a banda dos 13 metros, munido de um bom receptor e de uma antena exterior bem feita (não há bons receptores sem boas antenas...), o ouvinte no Sul da África terá nos 16 metros todas as hipóteses de escutar o Mundo durante o dia.
No Botswana, A Voz da América (VOA) tem retransmisores; o mesmo se pode dizer da Rádio Nederland (holandesa) em Madagáscar. Isto aproxima os Hemisférios Norte e Sul, facilitando ao máximo a escuta.
Entre as muitas estações interessantes que operam na banda dos 16 metros, referimos a África N.º 1, que transmite, durante todo o dia, da capital do Gabão (Libreville) em Francês, para a África Ocidental, em 17630 kHz, mas que é ouvida muito bem na Europa com os seus 250 Kw de potência; para além da Onda Curta (16, 19 e 31 metros) tem uma rede de emissores em FM na República Centro Africana, Costa do Marfim, Niger, Mali, Senegal, Congo, Tchade, Togo, Burkina Faso e também em França. Faz a cobertura dos acontecimentos africanos, incluindo animadíssimos relatos de futebol ! Apresenta ainda inúmeros programas de boa música africana.


-         Banda dos 15m (18900 a 19020 kHz)
A banda de radiodifusão dos 15 metros é a mais nova de todas; ela foi criada apenas em 1992 pela Conferência Mundial Administrativa de Rádio para o Planeamento das Bandas de Radiodifusão em Alta Frequência (WARC-HFBC).
Situada entre as bandas dos 16 e dos 13 metros, a banda dos 15 metros nunca foi muito procurada, nem por emissoras, nem por ouvintes.
Ela é utilizada pelas rádios oficiais da Noruega e Dinamarca (que utilizam os mesmos emissores) e da Suécia, com antenas dirigidas para as Américas.
Também aparecem duas emissoras dos Estados Unidos, com programas religiosos: a WSHB, da Carolina do Sul; e a WYFR, com emissor na Flórida.
Todas estas emissoras, à excepção da WYFR (100 Kw), utilizam potentes emissores de 500 Kw.
A WSHB transmite em Português, para a Europa, programas de meia hora; transmite também em Inglês e Francês.
A WYFR, “The Family Radio”, indica na sua publicidade um endereço na California.
E quanto à banda dos 15 metros, não se consegue ouvir mais nada...

Por falarmos nestas duas estações, passamos a referir um fenómeno que se regista já há alguns anos e que são as emissoras americanas com programas religiosos em Onda Curta.
A Trans World Radio, que também existe na Suazilândia, parece ser a mais importante, com emissores igualmente em França, Mónaco, Polónia, Arménia, Antilhas Holandesas, etc..
Sem querer apresentar uma lista exaustiva, referimos as seguintes:
-         The Overcomer Ministry;
-         World Beacon/African Beacon;
-         World Wide Christian Radio;
-         Family Radio, WYFR;
-         Voice of Hope;
-         Catholic Radio WEWN;
-         World Harvest Radio;
-         WJCR World Wide;
-         KTBN International;
-         KAIJ International;
-         WBCQ, do Maine;
-         WMLK, da Pensilvânia;
-         WVHA, da Florida;
-         WHSB, de Boston;
-         WSHB, da Carolina do Sul;
-         WTJC, da Carolina do Norte;
-         WGTG, do Tennessee;
-         WWBS,   KJES,   etc..

Estas estações apresentam programas religiosos, que tanto podem ser calmos e que convidam à reflexão, como excitados e sublinhados por aplausos e respostas como “Amen” e “Aleluia”. Também transmitem cânticos.
Ao falarmos nesta realidade, não fazemos qualquer comentário.
         Preferimos transcrever o Artigo 18.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que, sobre este assunto, diz:
         “Toda a pessoa em direito de liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a sua religião ou a sua convicção, só ou em comum, tanto pública como particularmente, pelo ensino, por práticas, pelo culto e pela realização de ritos.”
         Se as pessoas entendem que este é o meio adequado para propagar a sua Fé, então é lícito que o usem. Esta atitude vem dar razão a quem acha que, mesmo hoje, a Onda Curta é um meio poderoso de propagação de ideias.
         Tanto em Portugal, como em Angola e Moçambique, existem emissoras católicas: é o caso da Rádio Renascença (Portugal), Radio Ecclesia (Angola) e Rádio Pax da Beira (Moçambique).
         Na Polónia existe a Rádio Maria e, com este nome, existem estações de inspiração religiosa em vários países.

         A maior rádio católica do Mundo é, sem dúvida a Rádio Vaticano, que transmite do Estado da Santa Sé, próximo da cidade de Roma, capital da Itália.
         A Rádio Vaticano transmite em 37 línguas, desde “A” de Albanês a “V” de Vietnamita, passando por Esperanto e Latim. Nestas 37 línguas estão incluídas o Português e o Swahili.
         Utiliza todas as bandas destinadas à rádio difusão em Onda Curta, desde os 13 até aos 49 metros e mais uma frequência logo a seguir ao limite dos 75 metros. A frequência mais alta é a de 21850 kHz, destinada ao Brasil, mas que chega muito bem a Portugal; a mais baixa é a de 4005 kHz, utilizada no Inverno para a Europa.
         Em Português, a Rádio Vaticano transmite para a Europa, América do Sul e África; e em Swahili para a África Oriental.
        
         A Rádio Mundial Adventista (AWR – Adventist World Radio) foi fundada há 30 anos e tem emissores em Guam, Itália, Alemanha, África do Sul, Áustria e Madagáscar. Transmite também via Satélite e Internet.

         Entre o fim da banda dos 15 metros e o início da banda dos 13, há a assinalar uma outra banda dos 15 metros, mas dos rádio amadores. É uma banda muito animada, com muita utilização durante o dia. Mas, como é de dia a qualquer hora, considerando o conjunto do planeta Terra, podemos captar a qualquer hora as emissões em Banda Lateral Única dos amadores de todo o Mundo. Claro que o receptor, de mesa ou portátil, tem de ter SSB/BLU.
         Antes da banda dos rádio amadores, existe uma estação que dá sinal horário 24 horas por dia nos 20 MHz (15 metros certos) em BLU (Banda Lateral Superior).
         A seguir, em 20275 kHz, existe um repetidor da Rádio Rivadavia, da Argentina. Este é um fenómeno que ainda persiste, apesar do uso dos satélites para levar o som aos emissores. Trata-se de um pequeno emissor de SSB, que faz a ligação dos estúdios aos emissores que, depois, são sintonizados em AM (Amplitude de Modulação) pelo público em geral.
         Acontece, também na banda dos 60 metros, com um repetidor do “serviço de rádio e televisão das forças americanas”, que transmite da Itália e que é escutado em toda a Europa e Norte de África 24 horas por dia.


-         Banda dos 13m (21450 a 21850 kHz)
Esta é uma banda de rádio difusão usada para cobrir grandes distâncias, para transmissões intercontinentais.
A banda dos 13 metros começa com uma emissão, interessante em termos de escuta, em “banda lateral superior”, SSB/USB, destinada à Europa Ocidental e ao Pacífico Sul, em simultâneo, em 21455 kHz. Se observarmos as localizações relativas destas duas regiões e da República do Ecuador (onde tem origem a emissão), notamos que estão no mesmo enfiamento... Ou seja: a mesma antena transmite para Sul e para Norte ao mesmo tempo! O emissor está no ar durante quase vinte horas por dia, em Espanhol e em Inglês, apresentando programas religiosos da Rádio HCJB, Quito, Ecuador.
A mesma frequência é usada pela emissora americana, também de programas religiosos, “Family Radio”, durante as horas em que a HCJB desliga o emissor. “Family Radio” transmite para a Europa em Inglês, Francês e Alemão, nesta frequência.
Numa frequência um pouco superior, esta mesma Rádio HCJB aparece à noite a transmitir para a Europa em cinco línguas, sucessivamente.
Na banda dos 13 metros transmitem várias estações em Português, para África: Voz da América, Rádio das Nações Unidas, “Family Radio” e Rádio Portugal; Rádio Vaticano aparece, no fim da banda, em Português para o Brasil.
Esta banda não regista a utilização de algumas bandas internacionais, que vimos anteriormente, como os 19 e 25 metros. Há estações, na banda dos 13 metros, que apenas transmitem uma ou duas vezes por semana.
E até há uma, muito interessante, que apenas está no ar uma vez por mês! Trata-se da Liga de Rádio Sul-Africana, da Liga de Rádio Amadores da África do Sul, que transmite apenas durante uma hora, num determinado Domingo do mês!
Apesar de uma menor procura por parte das estações de rádio, aparecem na banda dos 13 metros emissões provenientes de mais de trinta países e dos cinco continentes. Desde a Austrália ao Vaticano, passando por países tão diferentes como a Noruega ou o Paquistão, a Turquia ou o Chile, o Irão ou os Estados Unidos.
No meio desta diversidade, o emissor mais fraco a operar na banda, tem apenas 2 Kw de potência e pertence à Rádio para a Paz Internacional. Transmite da Costa Rica e, naquela banda e com aquela potência, será talvez escutada predominantemente por rádio escutas, que disponham de receptores de comunicações.
Depois, aparecem emissores de todas as potências, desde os 20 até aos 500 Kw. O “Canal África”, da África do Sul, dispõe precisamente de emissores de 500 Kw nesta banda.


-         Banda dos 11m (25670 a 26100 kHz)
Sem qualquer transição entre os 13 e dos 11 metros, no que se refere a estações a transmitir fora das bandas, aparece-nos a faixa de frequências mais altas para a radiodifusão.
A banda dos 11 metros é, actualmente, usada apenas por duas estações de rádio, que utilizam emissores de 500 Kw de potência:
-         A Voz da Alemanha, que transmite em Alemão durante seis horas por dia para a Ásia e Europa;
-         E a Rádio França Internacional, em Francês, quatro horas diárias para África.
Durante os períodos de “baixa actividade solar”, esta banda dos 11 metros é pouco usada. A recepção nas frequências desta banda é muito melhor na zona à volta do Equador (Zona Tórrida) do que nas zonas temperadas. Ouvintes em São Tomé e Príncipe, Norte de Angola, Congo, Gabão, Uganda, Quénia, Ruanda ou Norte da Tanzânia, têm boas condições de escuta na banda dos 11 metros, durante algumas horas do dia. O mesmo acontece com os rádio escutas da Amazónia (Norte do Brasil), Sul da Colômbia, República do Ecuador e de outros pontos do Globo.

Cada “ciclo de actividade solar” demora onze anos a cumprir-se. O presente ciclo começou em 1996 e termina em 2007. Isto quer dizer que, nos anos intermédios de 2000 e 2001, se atingiu o auge do ciclo, o que permitiu excepcionais condições de escuta em Onda Curta. A partir de 2002 as condições começam a ser menos boas, para atingir o mínimo em 2007 (fim do ciclo). Em 2008, com o início do novo ciclo solar, as condições de escuta começam outra vez a melhorar. E assim sucessivamente, enquanto houver quem escute a Onda Curta...



PROGRAMAS PARA RÁDIO ESCUTAS

As estações de rádio têm interesse em atrair e manter interessados o maior número possível de ouvintes, porque só têm razão de existir se tiverem uma grande audiência, que regularmente sintonize as suas emissões.
A Onda Curta é escutada por pessoas que procuram informação, mas que se interessam também por alguns aspectos técnicos do funcionamento da rádio, como meio de comunicar à distância.
Para satisfazer este interesse, algumas estações de rádio transmitem, em dias certos, programas destinados a rádio escutas, também conhecidos por “Dxistas” ou “Dxers” (“DX” é a abreviatura de “distância”).
Ainda em meados dos anos “noventa”, mais de quarenta emissoras internacionais transmitiam programas destes, que eram escutados e gravados com todo o interesse. Geralmente transmitidos ao Sábado e Domingo, dias em que há mais audiência, estes programas foram desaparecendo com o tempo.
Substituídos por “boletins”, que chegam aos e-mails dos ouvintes, via Internet, esses programas tinham (alguns deles ainda existem) nomes bem conhecidos dos rádio escutas:
-         “Waveguide”, da BBC de Londres ou “Communications World” da Voz da América;
-         “Media Network” do programa em Inglês da Rádio Nederland (Holanda) ou “Radio Enlace” da mesma emissora, em Espanhol;
-         “DX Party Line” da emissora HCJB, da República do Ecuador ou “Flash des Ondes” da Rádio Áustra Internacional;
-         “Media Roundup” da Rádio Finlândia ou “Mundo da Rádio” da Rádio para a Paz Internacional (programa organizado pelo célebre rádio escuta Glenn Hauser, que é transmitido também por mais seis ou sete emissoras);
-         A Rádio França Internacional apresentava “Rádio Actividade” e “Correio Técnico”, ambos os programas em Francês;
-         “Mailbox” da Rádio Nova Zelândia, com o famoso “Dxer” Arthur Cushen ou “O Mundo da Onda Curta” da Rádio FEBA das Seychelles;
-         A Rádio Roménia apresentava, em Inglês, “DX Mailbag” e “Para Rádio Amadores”;
-         A Rádio Japão transmitia “Alam al-DX” (em Árabe), “Media Roundup” (em Inglês), “DX Jocky” (em Coreano), “Noticiero Dxista” (em Espanhol), “Pochtovy Yashchik” (em Russo), numa demonstração de que a escuta sistemática e organizada da rádio é para todos...



CLUBES PARA RÁDIO ESCUTAS

Enquanto que os Programas para Rádio Escutas eram um manancial de informação grátis, os Clubes existiam e existem para que os interessados troquem informações uns com os outros.
Geralmente, os Clubes de Ondas Curtas publicam um boletim mensal e recebem uma quota anual dos seus associados.
Na África do Sul existe o “South African DX Club”, em Hillbrow. Outros países africanos, como a Costa do Marfim (“DX-Ivoire”), a Nigéria (“Africa DX Association”), o Uganda (“Clube Internacional DX da África Oriental”), Tunísia (“Clube dos Ouvintes e da Amizade”) e Togo (“Clube Inter Amizade Rádio” e “Grupo Endoc”) têm também os seus Clubes de Rádio Escutas.


Os interesses dos associados variam muito e, por isso, os Clubes DX podem ser de vária ordem:
-         Há os que apenas querem saber das Ondas Curtas e não escutam mais nada;
-         Outros interessam-se principalmente pela Onda Média;
-         Outros ainda são especialistas na Onda Longa;
-         Há os que escutam FM e tentam ver Televisão de países distantes;
-         Há os que apenas escutam as frequências fora das bandas de rádio difusão;
-         Outros só estão interessados em escutar estações de uma região ou continente, como é o caso de África ou da América Latina, que apresentam enormes desafios e um interesse sem fim;
-         Outros ainda especializam-se em estações piratas, sem licença para emitir;
-         Outros em estações clandestinas de programação política;
-         Há os que apenas admitem rádio escutas experimentados como sócios;
-         Outros, pelo contrário, destinam-se aos principiantes;
-         E uma série de outros interesses...

Mas estes Clubes existem por todo o Mundo, quer seja na Lituânia, no Bangladesh, na Nova Zelândia ou no Uruguai.
O país com maior número de Clubes DX importantes e activos deve ser os Estados Unidos (mais de 20), seguido da Itália com 15 e da Alemanha com 13. O Japão, o Canadá, a Índia e a França têm seis, o Brasil tem cinco, a Austrália e o Reino Unido têm quatro. A Argentina, o México e a Espanha têm três.
Como tudo o resto em Onda Curta, este números são variáveis, meramente informativos, porque podem desaparecer uns e aparecer outros.

Por exemplo, o Danish Short Wave Club International, da Dinamarca, no ano 2000 tinha 341 associados em 42 países. No ano seguinte, o Clube tinha perdido 96 membros, ficando reduzido a 245 rádio escutas em 36 países. Mesmo assim, é ainda o mais representado mundialmente. Os países onde este Clube conta com mais associados são a Alemanha (53), o Reino Unido (30), a própria Dinamarca (29) e a Itália (24). Em Portugal tem 3 e na África do Sul tem 1.
Esta perda de associados regista-se em praticamente todos os Clubes DX da Europa Ocidental, porque se encontram gratuitamente na Internet todas as informações de que o rádio escuta precisa e sem ter de pagar uma quota. Claro que a escuta das Ondas Curtas nunca foi uma actividade solitária e, por isso, um genuíno rádio escuta pertence sempre a um clube ou associação DX.
Este Clube Internacional Dinamarquês de Onda Curta publica, mensalmente, em Inglês, o boletim “Notícias da Onda Curta”.

Um país muito activo na escuta das Ondas Curtas é o Brasil. Os Clubes DX mais conhecidos são:
-         Clube Dxista da Amazónia, em Belém do Pará;
-         Globo DX, de São Paulo;
-         DX Clube do Brasil, em São Bernardo do Campo, Estado de São Paulo;
-         Juventude DX Clube, em Santa Catarina;
-         Viamão DX Clube, no Rio Grande do Sul.

Além destes Clubes, que reúnem um número significativo de membros associados, existem outros de menor dimensão ou de existência precária, que não publicam um boletim regularmente. Foi o caso do “GREP” (Grupo Rádio Escuta de Portugal), com sede na Amadora, perto de Lisboa e que desapareceu por volta de 1989.
Existem também Clubes de Ouvintes de determinada emissora, que se reúnem para escutar e comentar programas dessa estação de rádio. Acontecia com a “Voz da Alemanha”, que tinha clubes de ouvintes em Portugal e no Brasil, quando transmitia em Português para esses países em Onda Curta.

Os Clubes DX da Europa estão inscritos no chamado “Conselho Europeu DX”, com sede na Inglaterra e que organiza uma Conferência Anual. No ano 2001, a Conferência tem lugar em Budapeste, na Hungria, de 24 a 27 de Agosto.
Os Clubes DX americanos estão reunidos na ANARC (Associação dos Clubes de Rádio da América do Norte).


MARCAS DE RECEPTORES DE RÁDIO

Começando pelos rádios de mesa ou portáteis, de fabrico europeu ou japonês, que habitualmente se vêem em casa das pessoas e que apenas se destinam a escutar as emissoras locais, todos conhecem os “Philips”, “Grundig”, “Hitachi”, “Sony”, “Telefunken”, “Panasonic”, “Aiwa”, “National” e muitos outros.
Outras marcas, que fabricaram bons rádios domésticos a válvulas, como “Bush”, “PYE”, desapareceram ou mudaram de mãos.
Hoje em dia, uma só fábrica fornece, por vezes, várias marcas. É o caso da “Sangean”, que fabrica alguns bons receptores de afixação digital de frequência e que fornece a “Roberts” inglesa ou a “Siemens” alemã.

Para rádio escutas, que levam mais a sério o seu passatempo, existem, no entanto, marcas que fabricam receptores mais completos e especializados:
-         “AOR”, com os seus modelos 7030 e 7030 Plus;
-         “Drake”, que apresenta o SW8 e o R8B;
-         “Icom”, que comercializa o IC-R9000, IC-R8500 e IC-R75;
-         “JRC” (Japan Radio Company) com o NRD-371 e NRD-545;
-         “Lowe”, com os HF-150, HF-250 e HF-350;
-         “Ten-Tec”, com os RX-320 e RX-340;
-         “Watkins-Johnson”, com o seu HF-1000;
-         “Yaesu”, com o FRG-100.







PRINCIPAIS ESTAÇÕES DE RÁDIO NO MUNDO
         Nem sempre as estações de rádio mais potentes e mais escutadas correspondem aos maiores países ou potências mundiais.
         O caso da Rádio Nederland, da Holanda, é um exemplo disso. Pertencente a um pequeno País, que ocupa uma área (33 920 Km2) pouco maior do que metade da área da Província de Inhambane (66 250 Km2), é escutada e apreciada em todo o Mundo...............................................................

TEMAS A DESENVOLVER PROXIMAMENTE:
-         Marcas de rádio: antigas e modernas
-         Receptores de comunicações
-         A importância das antenas
-         Tempo Médio de Greenwich (TMG) e Tempo Universal Coordenado (UTC)
-         Transmissão de rádio por satélite, cabo e internet
-         Horários das emissões em português
-         O futuro da Onda Curta.

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