quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

TIMOR

TIMOR – A DESCOLONIZAÇÃO QUE NÃO SE FEZ

A passagem dos 30 anos da Declaração Unilateral da Independência de Timor traz à memória dos portugueses o caso incómodo para a consciência nacional da descolonização que não se fez.

O golpe militar em Lisboa, de Abril de 1974, encontrou em funções em Timor o governador Alves Aldeia, que aí permaneceu até concluir que a comissão local do Movimento das Forças Armadas (MFA) o desautorizava.
Substituído pelo comandante militar, coronel Herdade, também este se sentiu subalternizado, pelo que foi nomeado Lemos Pires como governador de Timor. Mas, na verdade, quem tudo mandava no território era Arnão Metelo, que chefiava a comissão local do MFA.

Tal como Rosa Coutinho em Angola e Victor Crespo em Moçambique, Arnão Metelo empenhava-se em colocar Timor na órbita de Moscovo do tempo de Leonidas Brejnev.
Para o efeito, Arnão Metelo e os outros oficiais revolucionários do MFA promoveram e apoiaram a FRETILIN (Frente de Timor Leste Independente) na época de inspiração marxista-leninista. Isto apesar de a União Democrática Timorense (UDT) ser o partido da maioria, tal como afirmou Almeida Santos, então ministro da Coordenação, após uma visita ao território.

A braços com uma guerrilha comunista no seu próprio país, a Indonésia não podia aceitar o aparecimento de um regime análogo nas suas fronteiras. O general Suharto, presidente da República da Indonésia, tinha inclusivamente assumido, em Janeiro de 1974, o comando do serviço especial de luta contra o comunismo

Apesar disso, Arnão Metelo e os outros revolucionários do MFA favoreciam o aparecimento de um regime marxista-leninista em Timor, através da FRETILIN. Esta declarou áreas libertadas, a UDT respondeu e, a partir de Agosto de 1975, estalou a guerra civil no território.

A Indonésia avisou repetidamente os governos de Vasco Gonçalves e Pinheiro de Azevedo para resolverem a situação em Timor. Mas em Portugal a época era caracterizada pela tentativa dos comunistas conquistarem o poder pela força, em que avultavam prisões arbitrárias, as nacionalizações, e que culminou com a tentativa totalitária falhada do golpe de 25 de Novembro. A 16 mil quilómetros de distância e nestas condições de extremo perigo e instabilidade, Timor não conseguia decerto chamar a atenção dos portugueses.

Foi neste cenário que a 28 de Novembro de 1975 – faz hoje 30 anos – a FRETILIN procedeu à declaração unilateral da independência.

Nos primeiros dias de Dezembro de 1975, o presidente Ford, dos Estados Unidos da América, estava a visitar a Indonésia. Dois dias depois do termo da visita, a Indonésia invadiu Timor, pelo que é lícito supor que os americanos concordaram antecipadamente com esta operação militar.

Lemos Pires, sem meios para resistir, retirou-se com todo o seu estado-maior para a ilha de Ataúro, gesto esse que não o dignificou especialmente e que, por certo, fez remexer no túmulo os régulos locais D. Aleixo e D. Jeremias, que tiveram morte heróica frente à invasão japonesa em 1942.

A FRETILIN, que só era decidida e resoluta quando o adversário estava desarmado e se chamava UDT, fugiu para o mato, mas antes assassinou os reféns que tinha consigo, como foi o caso do coronel Maggiolo Gouveia, comandante da polícia local.

A Indonésia procedeu a um genocídio sistemático, eliminando, das mais diversas formas e em pouco tempo, metade da população de Timor.

Arnão Metelo e os outros oficiais revolucionários nunca foram chamados à responsabilidade pela situação que criaram em Timor.
Com estes antecedentes, Portugal não pôde nunca aparecer perante o Mundo em posição aceitável e convincente para condenar a Indonésia pelos nefandos crimes, que este país praticou durante tantos anos em Timor.

Outros substituíram-se a Portugal em 1999 para fazer a descolonização e levar Timor à independência em 20 de Maio de 2001.


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