quarta-feira, 8 de maio de 2013

FADO - Poema de Deolinda Domingues Alves

Tenho o privilégio de publicar mais uma poesia de Deolinda Domingues Alves.
Desta vez, esta professora aposentada de Leiria debruça-se sobre as diferentes formas que o Fado tem: o de Lisboa, o de Coimbra e o do Porto. Cada um com o seu sentir cada um com o seu encanto, num poema que faz também referência a Amália Rodrigues.
Contrariando a letra do popular fado divulgado por António Mourão, que diz
"A Severa, foi-se embora. 
O tempo, p'ra mim parou. 
Passado foi com ela, 
Para mim não mais voltou."

afirma que
"A Severa não foi embora
Nem o tempo parou."
F   A   D   O
Fado,
Sentimento,
Tumulto de emoções;
O credo do nosso povo
Que o tempo não faz apgar

Uma voz cravada no peito;
A voz de uma canção ferida
Que se vai soltando
Em tons melodiosos,
Para talhar um poema da vida
A solidão que fala
Com as palavras do olhar!
E, numa expressão bem sentida, 
Canta a tristeza da alma

O fado é loucura,
Ciúme, saudade,
Mistério, alegria,
Amores perdidos,
A fantasia...
Perde-se nos tempos
E nos lugares lisboetas,
Onde a gente sofria

Aprendia-se nas vielas,
Nas tabernas,
Nos espaços misteriosos,
No Bairro Alto, na Mouraria

Também foi nascer
Nas frescas margens do Mondego
Da velha cidade de Coimbra,
Embalado pelos braços do Choupal;

A guitarra, a Faculdade,
A tricana linda
E a pobre Inês,
Chorando, junto à Fonte,
O seu amor fatal!...

E não menos fadista
É o Porto, com a antiga Ribeira,
Que, ao amanhecer,
Se veste de tons cinzentos
E, ao anoitecer,
Estende as mãos
Para colher a lua!...

A Severa não foi embora
Nem o tempo parou;
Amália não morreu
E o fado viverá eternamente,
Pela força das raízes,
Pela força do sentimento

Deolinda Domingues Alves
Leiria

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