sexta-feira, 11 de março de 2016

«Um Reino Maravilhoso», de Deolinda Domingues Alves

Deolinda Domingues Alves leva-nos nestes seus inspirados versos pelas desafiadoras terras de Trás-os-Montes, fazendo-nos atravessar abismos, ladeiras, vinhedos e rios.
Transporta-nos depois para as diversas estações do ano, cada uma com os seus encantos, fazendo-nos sentir os coloridos perfumes da Primavera, os dias quentes de Verão, as tardes amenas de Outono ou as noites sem fim do Inverno.
O realismo da sua poesia dá-nos a ilusão de percorrermos todo o Nordeste Transmontano com os seus rigores e amenidades, silêncios e solidões.


«Um Reino Maravilhoso»

Abrem-se as portas do Marão
E avistamos um «Reino Maravilhoso»,
Onde se prolonga o silêncio
E se adensa a solidão

Velhos e esquecidos montes,
Dominantes e altivos
No tempo, adormecidos

Pedras que falam,
Insondáveis abismos
E sons que se misturam no horizonte

Ladeiras íngremes,
Vinhedos em socalcos,
Rios num constante murmurar
E o Douro, correndo em fúria,
Pró mar

Primaveras perfumadas,
De um colorido realista;
Amendoeiras em flor;
Olivais e verdejantes prados

Um manto vermelho
De papoilas em festa;
O rosmaninho a florir
E a roseira brava,
Em grinalda de menina

O tojo, a urze agreste,
O cardo e a giesta,
Que teimam em resistir

Nos dias escaldantes de Verão,
Dorme-se a sesta
E ceifam-se os loiros trigais
Que, escasseando, já vão

Tardes amenas de Outono
Numa conjugação de cores,
Aromas e sabores
E o raiar matizado
Do sol poente

Noites infindas de Inverno
Duma natureza despida
E adormecida;
Pétalas de neve
E um frio que gela

O fascínio misterioso
Por um reino pleno de contrastes,
Que nos seduz e acalma
As feridas da alma

Mas quando pisamos
Em terra abandonada
O silêncio nem é de ouro,
Nem de prata
E a solidão, mata!

Deolinda Domingues Alves

Leiria

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