Deolinda
Domingues Alves leva-nos nestes seus inspirados versos pelas desafiadoras
terras de Trás-os-Montes, fazendo-nos atravessar abismos, ladeiras, vinhedos e
rios.
Transporta-nos
depois para as diversas estações do ano, cada uma com os seus encantos, fazendo-nos
sentir os coloridos perfumes da Primavera, os dias quentes de Verão, as tardes
amenas de Outono ou as noites sem fim do Inverno.
O
realismo da sua poesia dá-nos a ilusão de percorrermos todo o Nordeste
Transmontano com os seus rigores e amenidades, silêncios e solidões.
«Um Reino Maravilhoso»
Abrem-se
as portas do Marão
E
avistamos um «Reino Maravilhoso»,
Onde
se prolonga o silêncio
E
se adensa a solidão
Velhos
e esquecidos montes,
Dominantes
e altivos
No
tempo, adormecidos
Pedras
que falam,
Insondáveis
abismos
E
sons que se misturam no horizonte
Ladeiras
íngremes,
Vinhedos
em socalcos,
Rios
num constante murmurar
E
o Douro, correndo em fúria,
Pró
mar
Primaveras
perfumadas,
De
um colorido realista;
Amendoeiras
em flor;
Olivais
e verdejantes prados
Um
manto vermelho
De
papoilas em festa;
O
rosmaninho a florir
E
a roseira brava,
Em
grinalda de menina
O
tojo, a urze agreste,
O
cardo e a giesta,
Que
teimam em resistir
Nos
dias escaldantes de Verão,
Dorme-se
a sesta
E
ceifam-se os loiros trigais
Que,
escasseando, já vão
Tardes
amenas de Outono
Numa
conjugação de cores,
Aromas
e sabores
E
o raiar matizado
Do
sol poente
Noites
infindas de Inverno
Duma
natureza despida
E
adormecida;
Pétalas
de neve
E
um frio que gela
O
fascínio misterioso
Por
um reino pleno de contrastes,
Que
nos seduz e acalma
As
feridas da alma
Mas
quando pisamos
Em
terra abandonada
O
silêncio nem é de ouro,
Nem
de prata
E
a solidão, mata!
Deolinda Domingues
Alves
Leiria
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