terça-feira, 1 de abril de 2014

NAVIO “ANGOCHE” - 23 de Abril de 1971

NAVIO “ANGOCHE”

  No dia 23 de Abril de 1971 - vai fazer 43 anos - o navio "Angoche" foi assaltado em alto mar, na costa de Moçambique, quando ia em viagem para o Norte.
   Os 22 tripulantes foram levados para a Tanzânia e eventualmente assassinados em Nachingwea, uma base da Frelimo.
   Supõe-se que o assalto tenha sido feito por meios navais soviéticos, talvez um submarino e foram encontradas manchas de sangue no navio, o que faz supor que foi usada violência contra os tripulantes.

   O jornal "Notícias" de Lourenço Marques foi impedido pela Comissão de Censura de divulgar qualquer informação, o mesmo acontecendo com os jornais de Lisboa.
   O jornal "Star" de Joanesburgo, que era vendido na esquina do "Continental", em Lourenço Marques, começou a referir-se ao assunto a partir da última semana desse mês de Abril de 1971. As informações eram poucas e as suposições eram muitas. "Diz-se", "fala-se", "supõe-se"...

   O mesmo acontecia com a Rádio Brazaville e a Rádio RSA de Joanesburgo, que transmitiam em português. Ou com as emissões em inglês da BBC e da Voz da América. Todas escutadas por mim em Onda Curta.
   Nunca ouvi a Rádio Moscovo e a "Voz da Frelimo" (através da Rádio Tanzânia) referirem-se ao assunto em Abril/Maio de 1971, apesar de eu as escutar todos os dias para o efeito.

   Ainda hoje permanece o mistério sobre o que teria acontecido aos tripulantes e a um provável passageiro (chamava-se José António e era "patrão de rebocadores", comandando o leme do barco que fazia diariamente a travessia Lumbo / Ilha de Moçambique), que viajavam a bordo do navio "Angoche".
   Só 3 dias depois, a 26 de Abril de 1971, o navio foi abordado pelas autoridades portuguesas, pelo que houve quem se interrogasse em Moçambique se não teria sido tempo demais para dar pela falta de um  navio daquele tamanho e com uma carga daquela natureza.

   Usou-se o clásico raciocínio do "Motivo, Meios e Oportunidade" para tentar peceber o que se tinha passado:
   - Motivo e Oportunidade: a Frelimo e a União Soviética, porque o "Angoche" transportava material de guerra;
   - Meios: apenas a União Soviética, porque a Frelimo não tinha meios navais para um assalto em alto-mar.
   Por motivos óbvios estratégicos e porque um acto de pirataria contra um navio mercante civil não honra particularmente quem o pratica, a URSS nunca falou no assunto.

   Três anos depois, com o golpe militar de 25 de Abril em Lisboa, desapareceu o relatório secreto sobre o assunto.
   Assim se passaram 43 anos sem que a opinião pública tivesse tido o direito de saber o que aconteceu.
   Haverá pessoas daquele tempo que sabem o que se passou ou que tiveram acesso ao relatório.
   É tempo de quebrarem o silêncio!

2 comentários:

  1. Muito bem. Conheço duas famílias que tinham a bordo do Angoche, em trabalho os seus familiares. Um deles, enfermeiro que trabalhava junto de mim em Louremço Marques, tinha lá um filho e uma amiga tinha lá o marido.
    Só muitos anos depois, sem saberem de nada, foram consideradas oficialmente viúvas e tiveram direito a pensões.

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    1. Muito obrigado pela informação, Graça.
      Neste caso é muito importante referir nomes e outros elementos de identificação. Através de um antigo residente na Beira, consegui o nome de «José António, que era "patrão de rebocadores", comandando o leme do barco que fazia diariamente a travessia Lumbo / Ilha de Moçambique,»

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