PUBLICADO NO "PREGUIÇA MAGAZINE" EM
http://preguicamagazine.com/2013/10/03/16153/
A caminho do encontro para a entrevista com João Francisco, da Portuguese Circle, que tem como missão divulgar a cultura portuguesa em Nova Iorque, a linha de metro que seria suposto apanhar encerrou por tempo indeterminado ‘para investigações’. Obama chegava à cidade na manhã seguinte, e pela rua já se viam aqueles carros pretos dos Serviços Secretos, como nas séries de TV. Bem-vindos à Grande Maçã.
A Preguiça foi ao encontro de João Francisco, um leiriense em Nova Iorque, perfeitamente adaptado ao estilo de vida norte-americano, principal impulsionador e divulgador da cultura portuguesa naquela grande cidade, e que trabalha actualmente em imagem numa empresa de produção de conteúdos.
Após chegar atrasado ao encontro, nunca mais digam que isto não é uma aldeia. Atravessa uma pessoa o Atlântico, e ao entrevistar um dos maiores impulsionadores da cultura portuguesa na Big Apple descobre-se, com o desenrolar da conversa, que afinal crescemos no mesmo sítio, separados apenas por duas ruas um do outro.
The american dream
João Francisco cresceu em Leiria, mudou-se para Lisboa quando foi para a faculdade estudar Engenharia Informática, e – como acontece a muita gente – a certa altura pensou que deveria explorar novas alternativas e experimentar algo lá fora. A coisa proporcionou-se, e a 3 de Janeiro de 2004 estava a aterrar em Nova Iorque para começar a trabalhar. “Não conhecia ninguém. A primeira manhã quando acordei, tive aquela sensação… Ah, estou mesmo aqui!’, recorda.
Em 2009, sentiu novamente a necessidade de mudar, não de cidade, mas de área. Como gostava produção, multimédia e imagem, decidiu aprofundar os estudos nessa área. ‘Se estivesse em Portugal, provavelmente não o teria feito’, refere João Francisco.
“Aqui, os norte-americanos têm duas características interessantes. A primeira é voltarem a estudar a meio da sua carreira profissional. A outra é a capacidade de se reinventarem: não têm medo de arriscar, aqui isso é normal”, observa. Nasceu então a SPITZFLIX, da qual João Francisco é um dos sócios, e a julgar pela última empreitada para o Travel Channel, está-se a safar e prestes a viver o american dream.
The Portuguese Circle
“Cheguei em 2004, e eu ia a eventos de quase todos os países menos de portugueses, porque não havia praticamente nada. Por isso, em 2007, decidi fazer o primeiro evento, que foi no dia 10 de Junho, e serviu para comemorar o Dia de Portugal em Nova Iorque”, clarifica João Francisco.
Assim estava criado o círculo português, onde se comemora e divulga a portugalidade, principalmente através da cultura e gastronomia. Actualmente promovem eventos quase mensais, onde aparecem em média umas 25 a 30 pessoas para conviverem em redor de uma mesa. Habitualmente faz-se num restaurante. Têm também duas vezes por ano o evento Portuguese Chefs – o nome diz tudo – que divulga o melhor da gastronomia portuguesa, e que gera muita curiosidade por parte do público norte-americano.
Porém, o maior evento que organizam é um piquenique no Central Park no dia de Portugal, direccionado para o público americano . “Trabalhamos em parceria com a entidade com organiza a maratona de Nova Iorque, e conseguimos juntar cerca de 10 mil pessoas, sendo que 97% delas são norte-americanas, e que numa manhã levam uma ‘ensaboadela’ de cultura portuguesa”, refere.
Para um certo público português, que gosta de uma banda pop, por exemplo, aqui talvez não seja o local ideal para se divertirem. Mas é preciso compreender que o público norte-americano adora fado, ranchos folclóricos ou tunas académicas portuguesas. Para eles é algo de diferenciador, pouco visto, e o Portuguese Circle proporciona-lhes isso mesmo.
“Não quer dizer que não possamos vir a ter algo mais virado para o pop ou rock, mas não faz muito sentido. Há aqui um ponto muito importante: para o público norte-americano, o que lhes interessa é o que é diferente. Nós às vezes em Portugal, e eu também falo por mim, olhamos de lado para certas manifestações culturais, como os ranchos. Os americanos adoram ranchos, porque não têm”, explica.
“Essa é uma das diferenças que eu vejo, e que me fez mudar de opinião, desde que vim para aqui. Temos de respeitar e manter as tradições daquilo que nós somos, e não temos de ter vergonha delas. O pessoal daqui adora as roupas dos ranchos, as danças, mesmo quando às vezes há uma ou outra voz mais esganiçada. [risos] É isso que chama!”, conclui João Francisco.
Facebook Portuguese Circle: https://www.facebook.com/PortugueseCircle
Texto de Pedro Miguel
Fotografia de Sílvia Curado
Fotografia de Sílvia Curado
(Publicado a 3 Outubro 2013)
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