sexta-feira, 25 de outubro de 2013

MUCUCUNE - INHAMBANE

Com a devida vénia, transcrevemos um artigo do maior interesse sobre uma localidade da Baía de Inhambane, Moçambique. Foi publicado na edição de 24 de Outubro de 2013 do jornal @VERDADE em http://www.verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/41159-em-mucucune-deus-diminuiu-as-bencaos

Em Mucucune Deus diminuiu as bênçãos

Cada vez que contemplo, de longe, a paisagem dominada intensamente pelos coqueiros, salta-me à retina o Apocalipse Now, filme de ficção realizado por Francis Copolla, tendo como actor principal o soberbo Marlon Brando. Mucucune fica do outro lado da cidade de Inhambane, em direcção ao ponto onde nasce o sol. Para lá se chegar tem que se atravessar a baía, ou de barco, em tempo de maré cheia, ou a pé, quando a maré está vaza. É um local de mito. Uma ilha que não parece devido às suas características geográficas. E em tempos, já foi um maná de marisco, porém, hoje, citando as palavras sábias de Momad Abdul Uhabo Aly, mais conhecido por Momad Wa Simbo, aqui já não há tanto produto do mar. “Deus diminuiu as bênçãos”.
Nunca consegui reprimir a vontade de lá ir outra vez, depois de ter estado nos finais da década de sessenta. Primeiro porque queria sentir novamente o prazer de atravessar, não importa como, ou a pé ou de barco, o retorno espiritual é o mesmo. Depois, aquele lugar esteve sempre cheio de enigmas. Parece haver algumas coisas da sua existência não muito bem esclarecidas, ou mal contadas, e outras contadas com mais um ponto acrescido. Mas isso é como a própria história, como diz Albertina Bessa Luís, é uma ficção controlada.
Decidi empreender a viagem, mais espiritual do que física, na manhã do último sábado, com um bloco de notas na minha sacola de palha (guikupa, em bitonga) e um smartphone da Movitel no bolso para fazer as fotos, mesmo sabendo que esta maquineta não me vai oferecer a amplitude de imagem que gostaria de ter. Mas também não posso fazer nada porque só tenho esta bugiganga.
Não sei exactamente quais são os dados que devo colher em Mucucune. Para além de Momad Wa Simbo, não sei com quem mais vou falar. Quer dizer, sou movido por um espírito de descoberta, e descobrir alguma coisa pode criar-nos uma desilusão, ou dar-nos um prazer sem medida. Como agora que chego à margem do lado de cá da cidade e vejo que não há água na baía. Os barcos foram retirados para onde possam continuar a navegar, ou ancorados à espera que a maré volte a encher. São quase 09h.30 da manhã e eu não preciso de arregaçar os calções, senão tirar as sandálias de camurça barata para vestir a terra molhada com os pés nus.
Estou sozinho, e as nuvens são benevolentes, tapam o sol para não me queimar a cabeça. Dou costas à urbe que me acolhe desde que saí do ventre da mulher minha mãe e, atrás de mim, logo ali, deixo o matadouro instalado num edifício que não vai ser mais do que um escombro anunciado. Ainda às minhas costas, estende-se uma fila de casebres desgraçados, cujos habitantes sofrem em tempos de marés equinociais (maguluti, em bitonga), sem poderem fazer nada para retirar a água que invade as suas habitações. Ciclicamente. E eles continuam ali não sei porquê. Mesmo assim, o panorama paisagístico que se escancara em toda a minha volta, como uma mulher que me envolve com amor e carinho, é esplendoroso. Caminho negligentemente com a minha guikupa a tiracolo, deliciando-me com a liberdade de estar naquele espaço criado pela própria mão de Deus.
Sabe-se que em tempos, quando a maré vazasse, ficavam a nu vários magotes de holotúrias que ninguém conhecia o seu valor quando levado para outras terras. Hoje já não se vê nenhum desses moluscos. Dizem que “os chineses varreram tudo”. O que sobrou são os pequenos caracóis (makolo, em bitonga) que fazem uma imensa esteira e que não podemos pisar com os pés descalços, a não ser que queiramos ser feridos. É isto e mais pouco, porque nos próprios mangais, os grandes caranguejos (sihologo, em bitonga), que abundavam, também partiram. “Deus diminuiu as bênçãos”.
Mito e realidade
A história diz-nos que Mucucune chegou a ser apelidada, no tempo colonial, de Ilha dos mouros, por terem ido para lá viver os descendentes dos árabes, forçados por artimanhas do dominador na altura a abandonar as suas casas no bairro de Balane, onde está localizada a mesquita velha, um testemunho vivo de que ali foi um reduto sagrado dos árabes, que queriam ficar junto à costa para vigiar mais de perto as suas embarcações. E esta minha ida a Mucucune tinha também essa pretensão, ver ou saber do que sobrou dos descendentes daqueles que chegaram aqui antes de Vasco da Gama. Aliás, o marinheiro português ao aportar em Quelimane, a caminho da Índia, teve que recorrer aos préstimos de um árabe de nome Abdul Azize, que, depois de negociações, aceitou guiar o aventureiro até Bombaim, o que, mais uma vez, confirma que alguém já cá estava e dominava a zona. Em 1498, eles já andavam por aqui.
Na “Ilha dos mouros” sobram poucos muçulmanos, uns 20 ou trinta. Os mais velhos, como Momad Wa Simbo, de 86 anos de idade, ainda conservam a história. O que avulta neste lugar é o cemitério cujas campas, pintadas a branco, podem ser vistas a partir da cidade. Aquele lugar de acolhimento dos mortos sempre foi temido, ninguém queria aproximar-se dele com o receio de ser abordado por fantasmas (dzigini). Mesmo a partir da urbe as pessoas evitavam lançar os seus olhares para ali, com medo de eventuais fulminações, porque o brilho de cal que os túmulos emanavam se via ao longe. Com resplandecência. São mitos que hoje já são não tidos em consideração. Toda a gente passa por perto, de noite e de dia, e não acontece nada. Também eu me aproximei do cemitério e não tirei fotos, provavelmente por medo. Também.
Momad Wa Simbo confirma que Mucucune continua a manter o seu lema dos tempos: paz e tranquilidade. “Sempre vivemos sossegados neste bairro, até hoje. Se houver algum problema é de pequena monta porque todos aqui nos conhecemos. Quase todos os que vivem aqui são daqui”. Na verdade, Mucucune leva esta marca. Dificilmente vamos encontrar ali um muthswa ou um chopi, ou ndau, ou mesmo um bitonga que não seja dali. A ilha levou sempre uma vida à parte, mesmo fazendo parte da cidade. Os seus habitantes distinguiam-se pelo seu comportamento discreto, o que pode estar a acontecer até hoje.
Mas os mucucunenses levam igualmente o “catálogo” da violência. Facto que é desmentido por Momad Wa Simbo. “Nós nunca fomos violentos, o que acontece é que recusamos ser provocados. Reagimos quando isso acontece, como qualquer pessoa reagiria se alguém fosse contra os seus direitos. Tudo o que falam de Mucucune é um mito. As pessoas não conhecem a realidade e, como não conhecem a realidade, inventam boatos. Se aqui não há mathswas, ou chopis, ou ndaus, é porque nunca quiseram viver neste bairro. Se alguém viesse pedir um espaço para construir, com certeza que o teria sem qualquer problema”.
No tempo colonial, um grupo de militares que cumpria serviço no quartel de Inhambane atravessou para Mucucune e protagonizou desmandos que incluíam o roubo de roupa posta a secar num estendal duma casa do bairro. É aí onde tudo começa; é como se tivessem pisado um ninho de vespas. Todos os residentes se mobilizaram e, no dia seguinte ao acto, ninguém foi trabalhar, os jovens não foram à escola. Todos eles, homens e mulheres e jovens e velhos, muniram-se de azagaias, catanas, machados e outros instrumentos de “guerra” e foram manifestar-se em frente ao gabinete do intendente. “Queríamos que ele nos levasse ao quartel para exercermos o nosso direito de vingança. Era um caso muito sério, que não degenerou porque houve bom senso e pedido de desculpas por parte dos agressores e do próprio representante”.
Mas os pedidos de desculpas não confortaram os habitantes de Mucucune. “Determinámos que a partir daquele dia não queríamos ver mais nenhum militar na nossa zona, nem militar nem polícia. Ficámos duas semanas a vigiar o bairro, com as nossas armas em punho, e depois disso nunca mais apareceram. Não queríamos ninguém fardado, nem os nossos filhos deviam aparecer ali envergando uniforme, sob pena de sofrerem as consequências”. Esta história correu meio mundo, passou de boca em boca e, cada boca que a contasse, aumentava dois pontos, e até hoje as pessoas pensam duas vezes antes de irem a Mucucune. Também por causa do feitiço, outra história que até hoje alimenta conversas em vários lugares da Inhambane e não só.
A alma fulminante
Já ninguém se lembra do ano em que morreu este homem, cujo nome não vamos fazer aqui referência porque depois podemos encontrar-nos na condição de não poder provar nada. Mas toda a gente fala dele. Dos feitos atormentadores da sua alma que, não encontrando a paz no céu, deambula pela terra fazendo vítimas. Em Mucucune as suas marcas ainda estão vivas, pese embora os seus descendentes, vivendo em Guilaleni, estejam, aos poucos, a livrar-se desse castigo. Quando ele morreu tornou-se num mpfukwa (espírito maligno). Era encontrado nos amuletos dos curandeiros (ainda é encontrado), fazendo das suas. Os filhos e os netos inocentes, de pessoas alheias, pagam muito caro porque alguns dos seus parentes, também mortos, “comeram” a carne desse mpfukwa.
Momad Wa Simbo também nos falou das peripécias dessa alma que vagueia pelas casas e pela vida das pessoas. “Olha, meu amigo, muita gente é obrigada a levar animais e dinheiro para casa desse homem para pagar uma coisa que eles não sabem. Outros viajam completamente nus de locais longínquos até à casa desta figura. As pessoas têm medo de se meter com os membros da sua família. Eles também transportam esse mito. Este espírito maligno não escolhe, é cristão é muçulmano, ele fulmina. Mas quem aceita esses caprichos são pessoas de pouca fé”.
Outro aspecto que caracteriza Mucucune são as casas esparsas, que não obedecem a nenhum ordenamento territorial. A principal actividade dos seus habitantes é a pesca. Sempre foi. Os pescadores montavam gamboas na praia, e o marisco que apanhavam em cada armadilha enchia um barco inteiro. Do mar saíam lagostas, peixes, lulas, caranguejos, santolas, todo o produto que aquela baía produzia. Era tempo de fartura que dava para alimentar directamente as famílias e comercializar a fim de custear despesas afins, como mandar as crianças à escola, comprar mantimentos na cidade e construir casas. “Para além da pesca temos o coco, que vendemos fresco ou transformado em copra. Temos ainda os cajueiros que se estendem por todo o bairro. Mas hoje por hoje, a produção, tanto do mar como destas árvores a que me referi baixou muito. Deus diminuiu as bênçãos”.
Ilha ou península?
Enquanto não nos desmentirem, Mucucune será sempre um arquipélago, que vai de Nhamalobe até a Ponta de Gulaleni. É composto por quatro ilhas, designadamente Mangwangwaneni, Gudzivane, Guilaleni e Nguhuni, esta última que leva o nome de Mucucune, por um motivo que ninguém nos soube explicar. Os seus habitantes, por serem discretos e distantes, são desconfiados e podem defender os seus direitos até às últimas consequências.
No tempo colonial, em ano que não se pode precisar, um branco do regime contraiu uma doença venérea (libuva, em bitonga), supostamente porque se meteu com uma mulher negra. Todos os da sua raça entraram em pânico. Instaurou-se uma ordem: as mulheres negras da cidade e seus subúrbios deviam ser submetidas a testes sanitários para fins que ninguém sabia. Porém, quando chegou a vez de se examinarem as mulheres de Mucucune, os homens sublevaram-se, mandaram os colonialistas à fava e disseram-lhes, na cara, que fossem primeiro fazer isso às suas mulheres.
Mucucune é conhecido pelas suas posições verticais. Até hoje pensa-se duas vezes para se fazer seja o que for naquele arquipélago. Por exemplo, Momad Wa Simbo conta-nos que nos primórdios da independência nacional houve uma campanha de caça aos feiticeiros. Todos tinham que ser submetidos à prova de matsawu, bebida tratada com ervas cujas propriedades são capazes de detectar esses indesejáveis. Em todos os bairros formavam-se longas filas para o rito, mas em Mucucune esse acto não se realizou. Recusaram-se a ser submetidos a tamanha humilhação. E são estas histórias que fazem do arquipélago um lugar distante e perto ao mesmo tempo.
Mucucune é (era) um lugar escolhido pela própria mão de Deus. Em tempo de maré alta a juventude fazia-se à praia para nadar lado a lado com os golfinhos que passeavam por ali, livremente. Lembrei-me deste fenómeno agora na minha ida – efémera e eterna ao mesmo tempo – àquele santuário. Fui em maré vazia, e fiquei lá todo o dia à espera que enchesse para ver os golfinhos passeando por ali, mas... nada! Momad Wa Simbo diz que já não há golfinhos por aqui. Quando aparecem, em número muito reduzido, é um espanto. “Nos tempos em que metíamos os nossos barcos para a recolha do peixe, esses animais pacíficos acompanhavam-nos muito de perto, mas hoje Deus diminuiu as bênçãos”.
É maré cheia. Calma. E eu estou de regresso a Nhapossa, bairro onde vivo. Em paz. Desta vez tenho que apanhar o barco. Com a vela enfunada. Que vai deslizar a favor de um vento suave que sobe do Sul. Olho para o céu e vejo uma avioneta a passar rente aos coqueiros, ao encontro da pista. Procuro com os olhos os flamingos que andavam por aqui em bandos de não acabar e... nem uma dessas aves alvas! Estou de costas para Mucucune. Viro a cabeça e vejo o cemitério onde foi enterrado, recentemente, o corpo de uma das figuras mais respeitadas da comunidade muçulmana, o Muhadisse, professor e sacerdote. Um cemitério que ainda tem muito espaço para receber os mortos, contrariamente ao da cidade de Inhambane, que já está para além dos seus limites.
É isso! Já desci do barco e estou em terra firme. Olho para onde estive e revejo o Apocalipse Now, de Francis Copolla e Marlon Brando. Aceno, na minha imaginação, ao Momad Wa Simbo: Deus diminuiu as bênçãos!

terça-feira, 8 de outubro de 2013

7 DE OUTUBRO - DIA DO XAI-XAI


Comemora-se nesta segunda-feira, 7 de Outubro, o Dia do Xai-Xai.
Neste dia 7 de Outubro, no ano de 1961, a Vila de João Belo foi elevada à categoria de cidade pela Portaria n.º 15 349.
Antiga povoação comercial com o nome de Chai-Chai, foi elevada à categoria de Vila em 27 de Outubro de 1911.
Em 1922 mudou o nome para Vila Nova de Gaza.
Seis anos depois passou a chamar-se Vila de João Belo.
Cumprimentamos os naturais, residentes, ex-residentes e amigos do Xai-Xai, enviando-lhes as mais cordiais saudações, com votos das maiores felicidades pessoais.

CHIBUTO - ELEVADA A CIDADE HÁ 42 ANOS!


Chibuto foi sede do Distrito Militar de Gaza, criado por decreto de 7 de Dezembro de 1895.
A antiga circunscrição foi elevada a concelho pela Portaria n.º 11 153, de 19 de Novembro de 1955. No ano seguinte foi-lhe concedido foral e o privilégio de usar escudo de armas e bandeira próprios.
Finalmente - faz hoje 42 anos - a antiga vila de Chibuto foi elevada à categoria de cidade pela Portaria n.º 808/71, de 8 de Outubro.
A cidade é um município com governo local eleito e tem uma população de 63 184 habitantes, de acordo com o censo de 2007.
O primeiro presidente do Conselho Municipal do Chibuto foi Francisco Barage Muchanga, eleito em 1998 , sendo sucedido em 2003 por Francisco Chigongue e depois por Francisco Mandlate, eleito para o cargo em 2008.
Nesta data festiva, cumprimentamos os naturais, residentes, ex-residentes e amigos do Chibuto, enviando-lhes as mais cordiais saudações, com votos das maiores felicidades pessoais e progresso para a cidade e município.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Um país com futuro incerto

Embora só tenha chegado a Portugal em 1975, já com 28 anos, sempre tive a opinião de que Portugal dificilmente teria viabilidade económica. 
Até aí, o país tinha vivido, sucessivamente, à custa das especiarias da Índia, ouro do Brasil ou recursos das colónias. Seguiu-se um período de 10 ou 12 anos em que ninguém ajudava e vivemos aqui com as maiores dificuldades. A 1 de Janeiro de 1986, Portugal tornou-se membro de facto da União Europeia, depois de longos nove anos de espera (candidatura a 28 de Março de 1977). 

Entre 1986 e 2011, Portugal recebeu nove milhões de euros POR DIA em fundos comunitários, ou seja, quase 81 mil milhões no total. Essas verbas destinavam-se a desenvolver o país e aproximá-lo da média europeia. Mas isso não aconteceu. Em vez de investir, gastou-se. Os diversos governos procederam a aumentos de ordenados e muitos outros benefícios incomportáveis em anos de eleições. Construíram auto-estradas em duplicado (da A1 vê-se a A29...) e outras obras públicas e equipamento social difíceis de manter. 
Agora, em tempos de penúria, numa época de crise mundial que começou em Agosto de 2008 (com a falência do Lehman Brothers), aparece finalmente a factura para pagar. Estou convencido de que, nem que os descontos fossem de 100%, nunca se pagaria os juros, quanto mais a dívida, que, aliás, foi mal negociada. Ou seja: não há solução à vista. Recuaremos, em breve, às miseráveis condições de vida, que por cá prevaleciam nos tempos tenebrosos do fim da Segunda Guerra Mundial.

domingo, 6 de outubro de 2013

Leiria 2013 - Há Música na Cidade

LEIRIA 2013 - "HÁ MÚSICA NA CIDADE"

Realizou-se no sábado, dia 5 de Outubro, a edição nº 4 da iniciativa cultural "Há Música na Cidade", que contou com mais de mil artistas em cem concertos e em trinta palcos ao ar livre.
Algumas fotografias em



quinta-feira, 3 de outubro de 2013

LEIRIA 2013 - CANÇÃO HÁ MÚSICA NA CIDADE

CANÇÃO HÁ MÚSICA NA CIDADE
Texto de Paulo Kellerman
Música de Mário Nascimento

Quando há música na cidade
Sentimo-nos como numa aldeia.
Todos juntos, um brilho no olhar
Há corpos irrequietos a dançar.
Vamos ouvir sons e harmonias,
Beats, filarmónicas, cantorias.
Vamos ouvir risos e alegria,
Descobrir emoções e ritmos, fantasia.
Bom dia, nas ruas há magia
Boa tarde, sente o riso, o encanto, a amizade.
Boa noite, não vás ainda...
Porque hoje o dia não tem fim, há música na cidade.
E quando há música na cidade
Sentimo-nos como numa aldeia.
Há festa, partilha, celebração
Todos unidos por uma canção.
Sentir a noite na ponta dos dedos,
A agitação e o ritmo cá dentro de nós
Descobrir melodias, cadências ousadas
Segredos e gritos, silêncios, a magia da voz.
Bom dia, nas ruas há magia
Boa tarde, sente o riso, o encanto, a amizade.
Boa noite, não vás ainda...
Porque hoje o dia não tem fim, há música na cidade.
Ecos, sombras, história
Futuros e passados,
Castelo e rio, céu azul
Namorados entrelaçados.
Agitação na Praça
Emoção no Terreiro
Euforia aqui e ali
Grita, junta-te ao berreiro.
Bom dia, nas ruas há magia
Boa tarde, sente o riso, o encanto, a amizade.
Boa noite, não vás ainda...
Porque hoje o dia não tem fim, há música na cidade.

OFERTA
O CD com a música do "Há Música na Cidade" pode ser solicitado gratuitamente na Livraria Arquivo, Jornal de Leiria, Livraria Americana e Tabacaria do Centro Comercial D. Dinis, em Leiria.

LEIRIA - HÁ MÚSICA NA CIDADE 2013

SÁBADO, 5 DE OUTUBRO DE 2013
DAS 14H00 ÀS 24H00

- MIL MÚSICOS
- CEM CONCERTOS
- TRINTA PALCOS

PROGRAMA COMPLETO EM 
http://pt.scribd.com/doc/172759232/HMC13-Programa

LOCAIS:
- PRAÇA RODRIGUES LOBO
- IGREJA DA MISERICÓRDIA
- SÉ DE LEIRIA
- LIVRARIA ARQUIVO
- BANCO DE PORTUGAL
- JARDIM LUÍS DE CAMÕES
- FONTE LUMINOSA
- MERCADO DE SANTANA
- POUSADA DA JUVENTUDE
- BIBLIOTECA MUNICIPAL
- PALÁCIO DOS ATAÍDES

ONÍRIA: UM DILEMA NO PARAÍSO

TEXTO DE PEDRO MIGUEL
PUBLICADO NO "PREGUIÇA MAGAZINE"
EM http://preguicamagazine.com/2013/10/03/oniria-um-dilema-no-paraiso/

A Preguiça intrometeu-se no éden, e foi apanhar as duas artistas em plena criação na montagem para a exposição “Oníria”, que estreia no sábado, dia 5, no Banco de Portugal, em Leiria. As mulheres sonham e a obra nasce.
Isto das grandes questões é uma cena tramada, e a exposição “Oníria”, por via das dúvidas, deixa muita coisa em aberto. De um lado Sílvia Patrício, pintora regular, mas também artesã de outros materiais na área da escultura. Também faz uns bolos de chocolate deliciosos, e, com um bocado de sorte, talvez haja uma fatia para os primeiros a chegar no dia da inauguração.
Do outro, Sofia Mota, fotógrafa tardia – daqueles casos em que o passatempo evolui para a profissionalização – entre passagens em outras encarnações pela psicologia, o mundo sazonal da hotelaria e produção de eventos. Também fala e percebe mandarim, por isso cuidado com o que dizem à sua frente.
Da cumplicidade destas duas mulheres através da arte num qualquer jardim proibido, nasceu esta exposição. Com o evoluir do projecto, juntaram-se dois homens para equilibrar o pecado em pleno. João Nascimento para musicar o acontecimento, para além de todo o artwork inerente ao evento, e o realizador Ricardo Portela, para documentar no ecrã a curta-metragem presente na exposição.
“Oníria é o mundo para lá do nosso mundo, que às vezes não se vê mas que se sente”, diz Sílvia Patrício, e prossegue: “A pessoa que vier aqui vai viajar. É uma visão de um mundo muito feminino”.
Sofia Mota complementa: “E isso nota-se muito quando falamos com homens (risos). Se nós temos uma identificação à partida com as imagens enquanto mulheres, há homens que não. Alguns até têm porque há ali coisas que são universais, mas alguns ficam-se pelo esteticamente bonito, e não há empatia como nós temos”.
Aqui quem manda são elas, os trabalhos complementam-se pelas salas, numa cumplicidade quase carnal, na medida que este trabalho pode ser encarado como um filho de ambas. É uma criação conjunta, que pode ser vista como uma só, tal é a simbiose entre as suas criadoras.
ONÍRIA
Sílvia Patrício: instalação
Sofia Mota: fotografia
João Nascimento: sonoplastia e design
Ricardo Portela: realização da curta-metragem
Inauguração: Sábado 5 Outubro, 17h, Banco de Portugal, Leiria.
Até 16 de Novembro.
Entrada livre.
Texto de Pedro Miguel
Fotografia de Ricardo Graça
(Publicado a 3 Outubro 2013)

A MISSÃO CULTURAL DE JOÃO FRANCISCO

POR PEDRO MIGUEL, EM NOVA IORQUE
PUBLICADO NO "PREGUIÇA MAGAZINE" EM
http://preguicamagazine.com/2013/10/03/16153/

A caminho do encontro para a entrevista com João Francisco, da Portuguese Circle, que tem como missão divulgar a cultura portuguesa em Nova Iorque, a linha de metro que seria suposto apanhar encerrou por tempo indeterminado ‘para investigações’. Obama chegava à cidade na manhã seguinte, e pela rua já se viam aqueles carros pretos dos Serviços Secretos, como nas séries de TV. Bem-vindos à Grande Maçã.
A Preguiça foi ao encontro de João Francisco, um leiriense em Nova Iorque, perfeitamente adaptado ao estilo de vida norte-americano, principal impulsionador e divulgador da cultura portuguesa naquela grande cidade, e que trabalha actualmente em imagem numa empresa de produção de conteúdos.
Após chegar atrasado ao encontro, nunca mais digam que isto não é uma aldeia. Atravessa uma pessoa o Atlântico, e ao entrevistar um dos maiores impulsionadores da cultura portuguesa na Big Apple descobre-se, com o desenrolar da conversa, que afinal crescemos no mesmo sítio, separados apenas por duas ruas um do outro.
The american dream
João Francisco cresceu em Leiria, mudou-se para Lisboa quando foi para a faculdade estudar Engenharia Informática, e – como acontece a muita gente – a certa altura pensou que deveria explorar novas alternativas e experimentar algo lá fora. A coisa proporcionou-se, e a 3 de Janeiro de 2004 estava a aterrar em Nova Iorque para começar a trabalhar. “Não conhecia ninguém. A primeira manhã quando acordei, tive aquela sensação… Ah, estou mesmo aqui!’, recorda.
Aqui, os norte-americanos têm duas características interessantes. A primeira é voltarem a estudar a meio da sua carreira profissional. A outra é a capacidade de se reinventarem: não têm medo de arriscar, aqui isso é normal.
Em 2009, sentiu novamente a necessidade de mudar, não de cidade, mas de área. Como gostava produção, multimédia e imagem, decidiu aprofundar os estudos nessa área. ‘Se estivesse em Portugal, provavelmente não o teria feito’, refere João Francisco.
“Aqui, os norte-americanos têm duas características interessantes. A primeira é voltarem a estudar a meio da sua carreira profissional. A outra é a capacidade de se reinventarem: não têm medo de arriscar, aqui isso é normal”, observa. Nasceu então a SPITZFLIX, da qual João Francisco é um dos sócios, e a julgar pela última empreitada para o Travel Channel, está-se a safar e prestes a viver o american dream.
The Portuguese Circle
“Cheguei em 2004, e eu ia a eventos de quase todos os países menos de portugueses, porque não havia praticamente nada. Por isso, em 2007, decidi fazer o primeiro evento, que foi no dia 10 de Junho, e serviu para comemorar o Dia de Portugal em Nova Iorque”, clarifica João Francisco.
Assim estava criado o círculo português, onde se comemora e divulga a portugalidade, principalmente através da cultura e gastronomia. Actualmente promovem eventos quase mensais, onde aparecem em média umas 25 a 30 pessoas para conviverem em redor de uma mesa. Habitualmente faz-se num restaurante. Têm também duas vezes por ano o evento Portuguese Chefs – o nome diz tudo – que divulga o melhor da gastronomia portuguesa, e que gera muita curiosidade por parte do público norte-americano.
Conseguimos juntar cerca de 10 mil pessoas, sendo que 97% delas são norte-americanas, e que numa manhã levam uma ‘ensaboadela’ de cultura portuguesa
Porém, o maior evento que organizam é um piquenique no Central Park no dia de Portugal, direccionado para o público americano . “Trabalhamos em parceria com a entidade com organiza a maratona de Nova Iorque, e conseguimos juntar cerca de 10 mil pessoas, sendo que 97% delas são norte-americanas, e que numa manhã levam uma ‘ensaboadela’ de cultura portuguesa”, refere.
Para um certo público português, que gosta de uma banda pop, por exemplo, aqui talvez não seja o local ideal para se divertirem. Mas é preciso compreender que o público norte-americano adora fado, ranchos folclóricos ou tunas académicas portuguesas. Para eles é algo de diferenciador, pouco visto, e o Portuguese Circle proporciona-lhes isso mesmo.
“Não quer dizer que não possamos vir a ter algo mais virado para o pop ou rock, mas não faz muito sentido. Há aqui um ponto muito importante: para o público norte-americano, o que lhes interessa é o que é diferente. Nós às vezes em Portugal, e eu também falo por mim, olhamos de lado para certas manifestações culturais, como os ranchos. Os americanos adoram ranchos, porque não têm”, explica.
“Essa é uma das diferenças que eu vejo, e que me fez mudar de opinião, desde que vim para aqui. Temos de respeitar e manter as tradições daquilo que nós somos, e não temos de ter vergonha delas. O pessoal daqui adora as roupas dos ranchos, as danças, mesmo quando às vezes há uma ou outra voz mais esganiçada. [risos] É isso que chama!”, conclui João Francisco.
Facebook Portuguese Circle: https://www.facebook.com/PortugueseCircle
Texto de Pedro Miguel
Fotografia de Sílvia Curado
(Publicado a 3 Outubro 2013)