José Álvaro Lopes, nascido em 1917, chegou a Inhambane aos 39 anos (1956) e por lá se demorou duas dezenas de anos, até 1976.
A obra pode ser adquirida através do "site" http://paulo-artur-lopes.planetaclix.pt/ onde é feita uma apresentação e indicados os montantes a transferir; ou pelo E-mail de Paulo Lopes: paulo@ua.pt
Com a devida vénia, e para apreciação do leitor, transcrevo o PRÓLOGO da obra:
«Ao longo da costa oriental do continente africano estende-se um país -Moçambique- antiga Província Ultramarina portuguesa e hoje país independente. Aqui, existe uma cidade -Inhambane- a cuja baía as naus de Vasco da Gama aportaram em 1498 na viagem da descoberta do caminho marítimo para a índia. Era a primeira vez que um europeu era visto pelos indígenas da região que, ao contrário do que era suposto, se mostraram, não só pacíficos mas cooperantes com os homens da frota do grande capitão, o que lhes mereceu a designação de "Terra da boa Gente", que conservaram através dos tempos. É uma cidade cujas características especiais a tornaram diferente de todos os outros aglomerados populacionais estabelecidos ao longo da extensa costa. Situa-se numa península formada por uma área de terreno entre o mar e uma baía, esta com cerca de 25 quilómetros de extensão a partir da barra. Quem ali chegava por terra, viajando ao longo da estrada que a liga à Capital, - ao tempo, Lourenço Marques - percorria uma pequena distância , tendo à sua esquerda a vista do panorama formado pelas águas azul-turquesa da baía, riscadas pelas linhas verticais dos troncos das palmeiras que a marginam e do lado oposto uma povoação de nome Maxixe. A primeira impressão que se sentia ao entrar na cidade era a de que nos encontrávamos num lugar aprazível e acolhedor. Esta sensação era-nos transmitida pelo aspecto de asseio e ar cuidado em que as ruas eram mantidas, limpas e alcatroadas e edifícios com aparência de terem recebido os benefícios de pintura recente. Era agradável ainda notar que as áreas relvadas e canteiros de flores mereciam os cuidados e atenção frequentes dos jardineiros encarregados da sua manutenção. Outra circunstância que tornava a cidade atraente era o facto de fazer parte da paisagem a baía, ilustrada pelo pontuado das velas brancas dos barcos que faziam a travessia para a outra margem, transportando pessoas e mercadorias. Esta particularidade trazia-lhe o benefício de horizontes amplos, desafogados, que contribuíam enormemente para a atracção do conjunto. Era a esta terra que chegava, ele, o imigrante, exilado voluntário; terra que escolheu para sobreviver e lutar, na esperança de colher os benefícios que resultassem do seu esforço, aquilo que a muitos era negado na sua Terra Natal. Mas não esqueceu o cantinho que deixou numa esquina da Europa, e onde volta, logo que lho permita o prémio ganho pelas actividades e energia despendidas nos seus afazeres, a minorar saudades de ver novamente os lugares que o viram nascer e criar, e que lhe sorriem, como convidando-o a sentar-se novamente à sombra do carvalho frondoso, a contemplar a paisagem que tinha levado gravada na alma quando dali se afastou. Em tempos idos, Inhambane tinha sido um porto de mar para exportação dos produtos principais da sua agricultura - algodão, amendoim, copra e outros - transportados pêlos barcos costeiros para a Capital, onde eram transferidos para os barcos de longo curso. Em resultado desta actividade, uma linha de caminho de ferro com a extensão de apenas uns 80 quilómetros, transportava do interior os produtos para o porto de mar. A linha chegando à cidade, atravessava esta, correndo ao longo da avenida principal, do lado Sul, cerca de 3 metros afastada das casas, mas dificilmente se notava a sua existência por ser coberta pela relva de um tabuleiro, um pouco alteado, que também corria no mesmo sentido. Em 1956 a linha tinha caído em desuso por falta de produtos a transportar. A pequena comunidade que ali vivia e trabalhava era constituída, naquela época, por umas centenas de pessoas que, sem contar com os naturais, se dividiam em três grupos étnicos principais: europeus, indianos e muçulmanos, em perfeita harmonia de convívio e respeito mútuo. Ali permaneci cerca de 20 anos, -1956/1976 - . É deste período que vou procurar registar os episódios que mais relevância tiveram no decurso daquele espaço de tempo em que vivi nessa encantadora pequena cidade , acontecimentos em que tomei parte, a que assisti, ou de que tive conhecimento. Atingi uma idade que me faz sentir a urgência de escrever as minhas memórias, pela impossibilidade de repetição dos acontecimentos com o mesmo interesse dos que me fizeram sentir aquilo a que chamarei a pirâmide da minha vida, cujo vértice virá a ser inexoravelmente atingido, com toda a probabilidade de não se situar a muita distância no tempo. (Nasci em 1917). A profunda nostalgia desses acontecimentos e lugares onde decorreram e por onde me ficou presa a alma, levou-me à decisão que tomei de partilhar essas memórias com os meus semelhantes e amigos queridos, cuja convivência contribuiu para fazer de mim um homem feliz, durante o espaço de tempo em que tiveram lugar, enquanto me é possível coordenar duas ideias. Toda esta cavalgada de recordações mantém-se fresca nos meus sentidos, pela intensidade com que foram vividos os factos narrados. |
Aqueles que me distinguiram com a sua amizade e a cuja convivência devo os melhores momentos que vivi na minha passagem por terras de África.
- Deste lado da Vida -
José António Calvo da Silva Rocha, Francisco Nelson de Lima, José da Silva Martins, Isildo d'Almeida, José Bernardo d'Almeida, Sebastião Machado, Levi Sebastião da Cunha Vaz, Arnaldo Macedo Fernandes, António Pereira da Silva Drs.: Mário Ferreira Gonçalves, Vítor Manuel Serraventoso, Frans Neser, Jan Kempt, Leon Jordan, Chris Botha, José Dinis Salvador Paralta, Frik Van Wyk, Christian Neser, Caseiro Rocha, Desembargador Danilo Alves Martins, e ainda: Momade Chicalia, Carlos Mimoso, Alfredo Lopes Tomé, Comandante Cristiano de Sousa, Arq. António de Sá Pires, Fernando Madeira, Francisco Edgar Ferreira, José Guerra, António da Silveira Ramos, Peter Kaye, José Eduardo Paralta, Fernando M. Marques Magalhães, Verónio de Sousa, José Luis G. Matoso, F. Mesquita, Nuno F. Noronha, Armando Lemos, Joaquim Oliveira, José António Bernardo d'Almeida, Dick Pollit, Carlos Alcobia, José Aníbal d'Almeida, Francisco Guita, Armindo Videira Martins. João Manuel Cardoso, Álvaro Fernando Cardoso.
- Do outro lado da Vida -
Gilberto da Silva Pauleta, Joaquim Leitão, Danton d'Abreu, Joaquim Melo, António Calafate, Joaquim Costa Deitado (Pai), Vitor Nunes, David Gray Peter Betton, Bob Blundell, Stewart Gilkison, Rui Rolo, Vincent Hessa. Doutores: Armando Dionísio, Saul Jorge, Vasco Soares de Melo, F.Deppinar, Chris Botha, Neylor Rauch, Rui Nogueira, e, ainda: John Hardy, Jimmy Haveman, Arthur Fallick, Luís Tibúrcio, Joaquim Botelho, Fernando Cardoso, Nuno Ferro António, António Lopes da Cruz, José d'Almeida Maia.
Àqueles que ainda me podem escutar, pedirei:
Amigos diletos que a Vida apartou
Do grato convívio, das sãs alegrias;
Não deixeis que a Sorte, que nos separou,
Esmoreça a chama dos ditosos dias.»
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