MOÇAMBIQUE ENTRE A GUERRA E A PAZ
As operações de guerrilha, que existiram em
Moçambique, de 1964 a 1974, fizeram parte da estratégia da União Soviética para
dominar a Rota do Cabo. Moçambique tinha fronteira com a África do Sul, na
época isolada do Mundo por causa dessa monstruosidade, que se chamou
"apartheid". Com a revolta militar de Lisboa, em 1974, as antigas
colónias portuguesas foram colocadas na órbita do imperialismo soviético, que
assim ganhava mais alguns votos na ONU e trampolins para assaltar quem se
opunha ao seu objectivo final - o domínio do Atlântico Sul.
Chegada ao poder, a Frelimo tratou de
organizar Moçambique segundo os métodos soviéticos: criação de polícia
política, controlo da informação (rádios e jornais), proibição de toda a
actividade privada, desde o mais pequeno estabelecimento comercial até aos
Bancos, Companhias de Seguros e empresas de grande dimensão.
Armando Guebuza, atual chefe de Estado e na época ministro da
Administração Interna do governo de transição, criou os chamados "campos
de reeducação" , que duraram de 1974 até ao início da década de oitenta e
onde morreram milhares de pessoas, entre elas dissidentes políticos e
religiosos de diferentes credos. Isto era uma imitação do que acontecia na
União Soviética e na China, potências mentoras da Frelimo.
Sempre na tentativa de estabelecer em
Moçambique um sistema económico marxista-leninista - que nunca funcionou - a
Frelimo lançou em 1983 a Operação Produção que obrigou milhares de pessoas -
entre 50 e 100 mil - a deixar as famílias e a ir para o Niassa. No meio de
todas estas arbitrariedades e violências, cada vez mais escapava à Frelimo o
aparelho produtivo, económico e burocrático. Mais uns milhares que foram
dizimados com esta iniciativa da Frelimo, por causa do frio, da fome, comidos
pelos animais ou por doença.
Após a morte de Samora Machel, em 1986, Joaquim Chissano sucede na
Presidência da República. Em 1988, Chissano autorizou o regresso para as zonas
de origem das pessoas que tinham sido forçadas a ir para o Niassa, mas não lhes
deu os meios para voltarem.
Foi neste panorama que se formou um movimento
para lutar contra o comunismo imposto à força e sem o apoio popular. A Rodésia
de Ian Smith e, mais tarde, a África do Sul do "apartheid", criaram,
armaram e dirigiram a Renamo. Tanto a Rodésia, como a África do Sul, faziam
incursões frequentes em território moçambicano, para atacarem as bases da Zanu,
Zapu e do ANC. A Guerra civil começou logo em 1977 e durou até 1992.
Antes, em 1987, devido ao descalabro económico originado pelo comunismo, o
governo de Moçambique comprometeu-se com o Banco Mundial e com o FMI a
abandonar completamente a política "socialista".
Chega-se assim a 4 de Outubro de 1992, quando foi assinado por Chissano e
Dhlakama, na Comunidade de Santo Egídio, em Roma, o Acordo Geral da Paz. A ONU
criou a força internacional ONUMOZ, que se destinava a desarmar as tropas da
Frelimo e da Renamo, e que esteve em Moçambique de 1992 a 1994, ano em que se
realizaram as primeiras eleições gerais multipartidárias.
Depois
de 21 anos de Paz em Moçambique, no dia no dia 17 de Outubro de 2012, Afonso
Dhlakama regressou à antiga base do partido, a Casa Banana, em Satunjira na
zona da Gorongosa, em Sofala.
No
dia 21 de outubro de 2013, militares da Frelimo tomaram aquela base da
Gorongosa. Nestas condições, a Renamo, anunciou o fim do Acordo de Paz de 1992.
Depois de 21 anos de paz, Moçambique voltava à guerra civil.
Ontem, domingo, 24 de Agosto de 2014, foi assinado um Acordo de Cessar Fogo entre as partes.
Vamos
ver se este foi o último capítulo que temos de escrever sobre as hostilidades
em Moçambique. Desejo muito que sim.