Publicado na pág. 40 do JORNAL DE LEIRIA de 11 Julho de 2013
Transcrito com a devida vénia
Entrevista
Cláudio Garcia, Ricardo Graça, Pedro Miguel e
Paula Lagoa, criadores da Preguiça Magazine
Criaremos
uma secção sobre a baba de caracol!
A Preguiça Magazine acaba de abrir uma franchise em Coimbra. O que se segue?
O País? A Europa? O mundo? Freixo de Espada à Cinta?
Coimbra surgiu porque um grupo de
malucos como nós se lembrou que a nossa preguiça precisava de uma irmã. Se não
for possível crescer para outras cidades talvez apostemos na Galáxia 2000. Acreditamos
ser um lugar com muitas histórias para contar e de sucesso, à partida,
garantido. Estamos em negociação com a gerência e dada a situação de crise no
País, talvez aceitemos pagamento em géneros. Por outro lado, o Pedro Miguel
quer avançar até Badajoz. Ainda não é certo porque outros preguiçosos acham que
esta pode ser a oportunidade de recuperar Olivença, Ceuta ou até mesmo a Ilha
da Madeira.
Ainda há vem vos diga que não nada para fazer pelas bandas de Leiria?
Acreditamos que ainda há quem o
diga, mas pelo menos já não o dizem a nós. Isto foi só uma forma de criar um
escudo protector, tipo bolha Actimel, contra gente chata que não tem nada para
fazer e também não procura o quê.
Quatro amigos, com boas ideias sobre imprensa online, reuniram-se e
fez-se um fenómeno de popularidade chamado Preguiça… Afinal. Era assim tão
simples criar uma publicação que quase toda a gente ama?
Pra já, queremos deixar bem claro
que não somos amigos e que até nem gostamos muito uns dos outros. Isto de ser
amado por muita gente ao mesmo tempo é uma coisa complicada. Há doenças
venéreas que ainda ninguém provou não se transmitirem online… Pessoas que amam
toda a gente também não costumam ter a vida fácil, às vezes acabam pregadas na cruz
e depois é uma chatice para as tirar de lá, são precisos pelo menos três dias.
A Preguiça é um conceito bastante óbvio que qualquer pessoa pode desenvolver
desde que tenha um ZX Spectrum com ligação à Internet pelo telefone. Nós não o
fizemos mais cedo porque somos preguiçosos.
Lembram-se como surgiu a ideia de criar a revista online? O que estavam
a fazer, o que estavam a falar?
É quase certo que não estávamos a
fazer nada de jeto, caso contrário seria impossível ter a conversa que levou ao
nascimento da Preguiça. De onde se conclui que às vezes, a inércia é o melhor
remédio, sobretudo se for cultivada ao longo de algumas dezenas u centenas de
almoços. Mas é justo reconhecer que tudo se deve ao Correio da Manhã porque foi
lá que dois dos preguiçosos se conheceram. Portanto, se o Vitor Direito não tem
fundado o primeiro tlablóide português em 1979, hoje não existia a Preguiça
Magazine. Dá que pensar, não dá?
O que faz com que a Preguiça seja alvo de tanta popularidade? Os temas
inesperados O tom leve, descontraído e de brincadeira dos artigos? Outra coisa
qualquer?
Talvez as pessoas achem piada ao
facto de um grupo de idiotas – e mais uma dezena de pessoas – os nossos mais
próximos colaboradores – trabalharem sem receber durante seis meses. Com tanto
salário em atraso no País, mais o desemprego, é natural haver um sentimento de
identificação.
Música, cultura e artes em geral são os temas que caem sob o vosso
escopo… quando vamos assistir à criação de mais um espaço, destinado apenas à
permacultura?
Por acaso já abordámos a
temática, mas primeiro vamos criar uma secção sobre pessoas que batem punho e
outra sobre os efeitos da baba de caracol nas tribos nómadas da Sibéria. Também
queremos publicar um conjunto de reportagens sobre o facto de estar calor em
Julho e os portugueses aproveitarem a fim de semana para ir à praia. Sem
esquecer os idosos alentejanos que procuram as sombras dos parques públicos e a
água fresca das fontes comunitárias. Mas é melhor não adiantar mais nada senão
a SIC ainda nos rouba esta ideia.
Se não estivessem ocupados a ser preguiçosos, o que estariam a fazer?
Estaríamos a fazer o que sempre
fizemos. Ajudar no serviço religioso da Igreja Maná da Pampilhosa da Serra a
traduzir a obra do José Rodrigues dos Santos para latim, a escrever letras para
o Nel Monteiro e a investigar a fundo os benefícios do aloé vera na vida sexual
dos mosquitos.
Se vos pedissem para se auto-caracterizarem, que adjectivos
escolheriam?
Ricardo Graça: patibular,
retrouceiro; Paula Lagoa: encafifada, gangenta; Pedro Miguel: umidífobo,
inadimplente; Cláudio Garcia: cambaio, apotropeico.
Certo! E ainda falta muito para enriquecerem?
Não, falta muito pouco. Aliás,
combinámos enriquecer no domngo, mas como ficou para de manhã não deu. Adiámos
para sexta antes do almoço. Se Deus quiser, fica resolvido.
Os preguiçosos de serviço nesta Magazine online
são Cláudio Garcia, 37 anos, jornalista e baterista. Ricardo Graça, 33 anos,
fotojornalista e músico. Pedro Miguel, 38 anos, jornalista, escritor, DJ e
autor de programas de rádio e Paula Lagoa, 31 anos, jornalista, empregada de
bar e activista dos direitos dos animais.