O texto foi apresentado a 22 de Maio desse ano (1986) no programa semanal de rádio "A Viver Também se Aprende" da Direcção Geral de Educação de Adultos.
Leiria cidade, Leiria distrito,
Leiria interior, Leiria litoral, no centro do País, Leiria é o tema do nosso
Programa de hoje.
Habitado por povos pré-históricos,
percorrido por Romanos, suevos, visigodos e muçulmanos, o distrito de Leiria
tem também o seu “Campo de Ourique”, perto da nascente do Lis, onde se teria
travado a célebre batalha… segundo David Lopes.
Desde as escarpas do Cabo
Carvoeiro e das Ilhas Berlengas, às vertentes densamente arborizadas da Serra
da Lousã, o distrito de Leiria foi berço de poetas como Francisco Rodrigues
Lobo ou António Lopes Vieira, heróis como Mouzinho de Albuquerque, políticos e
intelectuais.
Cá em baixo, no Sul do distrito,
a escassos 80 Km da capital do País, o concelho do Bombarral foi outrora local escolhido pela fidalguia para
local de seus solares. Povoado a partir do séc. XII, pertenceu ao concelho do
Cadaval até 1852, passando esse ano a pertencer ao de Óbidos.
Pertença da Casa das Rainhas até
1883, Bombarral passou a sede de concelho a 28 de Março de 1914, ano em que foi
elevada a vila.
Também na ponta Sul do distrito,
mas no litoral, Peniche foi
antigamente uma ilha e ainda o era no séc. XV. Habitada na Pré-História, como
se vê na Gruta da Furninha, também os Romanos deixaram vestígios da sua
ocupação.
Suplantando Atouguia da Baleia,
Peniche foi elevada a vila em 20 de Outubro de 1609. Em 1557 tinham sido
iniciadas as suas muralhas e D. João IV fez de Peniche uma praça
forte, depois de 1640.
O nome de Peniche teria origem em
Phenix, nome de uma cidade antiga da ilha de Creta, com o aspecto aproximado da
península em que está a vila.
Subindo um pouco, encontramos Óbidos, fundada no séc. III ou
IV A.C. e habitada pelos Romanos. D. Afonso Henriques conquistou estas terras
aos Mouros em 1148. Vila muralhada, Óbidos recebeu o 1º foral da Rainha Santa
Isabel em 1326 e foral novo de D. Manuel, em Lisboa, a 20 de Agosto de 1513.
O castelo foi reconstruído no
tempo do nosso 1º rei, de D. Afonso II e de D. Fernando. Três km de pedras e
arcos constituem o aqueduto que nos anos quinhentos trazia a água desde a
Usseira.
A seguir entramos no concelho das
Caldas da Rainha, onde em
1855 nasceu o pintor José Malhoa. Elevada a cidade em Agosto de 1927, Caldas da
Rainha foi fundada pela Rainha D. Leonor há 500 anos, em 1485. Deve a sua
existência às termas ou “caldas”, que foram frequentadas por quase todos os
reis portugueses ao longo dos séculos.
Os barros preto, branco e
vermelho que existem no concelho de Caldas da Rainha foram utilizados desde a
Pré-História pelos diferentes povos que por aqui passaram. A sua célebre
indústria de faiança, tal como hoje a conhecemos, teve início há quinhentos
anos.
Um pouco acima, o concelho de Alcobaça, onde em 1157 já
funcionava o célebre Mosteiro, em construções provisórias, na Chiqueda, e que
veio a ter a maior importância na vida económico-social do País ao longo dos
séculos.
Nas grutas de Colastros, Lagoa do
Cão, Cabeço da Ministra, Ervideira, Pera Velha Redondas e outras foram
enterrados os primeiros povos da área deste concelho. As tradições de viagens
de fenícios também se referem a estas populações. Mosaicos, túmulos,
inscrições, escultura, o povoado do Carvalhal ou o castelo de Pirreitas
documentam a passagem dos romanos pelo concelho de Alcobaça.
Passamos agora a um concelho,
marítimo por excelência, o concelho da Nazaré,
onde há 800 anos, em 1182, no “Sítio”, D. Fuas Roupinho se salvou de se
despenhar de uma altura enorme, ao perseguir um veado.
Até meados do séc. XIX a região
era muito atacada por piratas argelinos e holandeses. Por isso, só há pouco
mais de cem anos se começou a conhecer a Praia da Nazaré. Antes, os pescadores
apenas se podiam estabelecer no sítio da Pederneira. No séc. XVIII o mar recuou
e, na 2ª metade do séc. XIX, pôde construir-se a vila da Nazaré.
Para o interior fica o concelho
serrano de Porto de Mós.
Habitado por povos pré-históricos, a ocupação romana está, no entanto, mais
documentada. D. Sancho I mandou reedificar o castelo, erguido sobre castro
romano e em frente a uma atalaia moura. O Marquês de Valença fez dele uma
residência acastelada. Porto de Mós recebeu forais de d. Dinis e de D. Manuel,
tendo sido doada a D. Nuno Álvares Pereira.
Logo a seguir, a Batalha, com o seu Mosteiro, um
dos maiores e mais monumentais conjuntos arquitetónicos monacais da Europa,
construído há 600 anos, de 1385 a 1388. N´séc. XIII os habitantes das Brancas
pagavam o dízimo do sal, por ordem do rei D. Sancho II.
A povoação da Batalha foi elevada
à categoria de vila em 1498.
Voltamos para o litoral e
encontramos o concelho da Marinha
Grande, que começou a ser povoado no séc. XVI por guardas e outros
trabalhadores do Pinhal de Leiria. Criada a freguesia em 1600, instalou-se a
indústria vidreira em 1748, tendo Diogo Stephens oferecido a fábrica em 1826.
Elevada a 1.ª vez a sede de
concelho em 1836, a Marinha Grande tornou-se vila em 1892, tendo sido o concelho
restaurado em 1827. É de 18 de Janeiro de 1934 o episódio anarco-sindicalista,
contra a estatização dos sindicatos.
Estamos agora no concelho de Leiria, cujas terras foram objeto
de cobiça e conquista de suevos, visigodos, muçulmanos, asturianos e mouros,
antes de chegar à posse do nosso primeiro rei.
Com forais de D. Afonso Henriques
e D. Sancho I, confirmados por D. Afonso II e D. Manuel I, Leiria viu o seu
castelo aparecer a partir de 1135. Em diversos reinados se reuniram cortes em
Leiria, tendo-se aqui estabelecido em 1492 a primeira tipografia portuguesa.
Sendo vila desde 1142, Leiria foi
elevada a cidade em 1547.
Para Norte, a caminho da Serra do
Sicó, chegamos ao concelho de Pombal,
cuja história começa com o seu castelo, em 1161. Erguido sobre as ruinas de um
castro pelo Grão-Mestre dos Templários, Gualdim Pais, foi reconstruído no tempo
de D. Manuel e restaurado em 1940.
Em 1174 Pombal recebeu foral do
referido Gualdim Pais, tendo a vila pertencido aos Templários até 1311.
Decididamente embrenhados na
serra, entramos agora no Nordeste do distrito, através do concelho de Ansião que, por um foral régio
de 1465, teve título de mordomado. Elevada à categoria de vila em 1663, Ansião
viu nascer em 6 de Abril de 1738 o jurisconsulto Pascoal José de Melo.
Um pouco a Sul, Alvaiázere, onde teriam vivido
os primeiros habitantes da Península Ibérica e, muito mais tarde, os Árabes e
os Romanos. Repovoada no tempo de D. Sancho I, D. João I deu-lhe foral e
elevou-a à categoria de vila em 1388.
Na Serra de Alvaiázere fica a
gruta de Algar e a fortificação Carreira de Cavalos, do tempo dos Romanos.
Sempre para o interior, eis que
chegamos a Figueiró dos Vinhos,
fundada e povoada pelo famoso guerreiro D. Pedro Afonso, filho bastardo de D.
Afonso Henriques.
Poucos anos após a sua fundação,
Figueiró dos Vinhos foi saqueada e arrasada pelo rei mouro de Sevilha,
começando a repovoar-se em 1187.
O antigo castelo, fundado pelos
mouros, foi transformado em residência. Figueiró dos Vinhos foi elevada a vila
por D. Sancho I, em 1175, de quem recebeu foral. Ao lado da cadeia construiu-se
em 1552 uma torre acastelada.
Para Norte, já nas vertentes da
Serra da Lousã, encontramos Castanheira
de Pera, que até 1914 fez parte do concelho de Pedrógão Grande.
Em 15 de Novembro de 1502 um
contrato aprova a fundação da Igreja de S. Domingos, no concelho de Castanheira
de Pera.
O 1.º documento histórico
conhecido deste concelho data de 16 de Maio de 1467 – uma sentença de D. Afonso
V relativa aos pastos do Coentral e do termo da Lousã.
E terminamos este peregrinar pelo
passado histórico dos 16 concelhos que formam o distrito de Leiria, entrando em
Pedrógão Grande. Povoação
muito antiga, mandada reconstruir por D. Afonso Henriques em 1176, que a doou a
seu filho D. Pedro Afonso, já aqui citado.
Vários forais contemplaram este
concelho, sendo o último de 8 de Agosto de 1513.
O famoso Frei Luís de Granada,
que viveu por quase todo o séc. XVI, escreveu parte das suas obras no Convento
Dominicano de Nª Sr.ª da Luz, que se situava a 2 Km a Sul da vila de Pedrógão
Grande.