segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Moçambique: Entre a Guerra e a Paz

MOÇAMBIQUE ENTRE A GUERRA E A PAZ

As operações de guerrilha, que existiram em Moçambique, de 1964 a 1974, fizeram parte da estratégia da União Soviética para dominar a Rota do Cabo. Moçambique tinha fronteira com a África do Sul, na época isolada do Mundo por causa dessa monstruosidade, que se chamou "apartheid". Com a revolta militar de Lisboa, em 1974, as antigas colónias portuguesas foram colocadas na órbita do imperialismo soviético, que assim ganhava mais alguns votos na ONU e trampolins para assaltar quem se opunha ao seu objectivo final - o domínio do Atlântico Sul.

Chegada ao poder, a Frelimo tratou de organizar Moçambique segundo os métodos soviéticos: criação de polícia política, controlo da informação (rádios e jornais), proibição de toda a actividade privada, desde o mais pequeno estabelecimento comercial até aos Bancos, Companhias de Seguros e empresas de grande dimensão. 
Armando Guebuza, atual chefe de Estado e na época ministro da Administração Interna do governo de transição, criou os chamados "campos de reeducação" , que duraram de 1974 até ao início da década de oitenta e onde morreram milhares de pessoas, entre elas dissidentes políticos e religiosos de diferentes credos. Isto era uma imitação do que acontecia na União Soviética e na China, potências mentoras da Frelimo.

Sempre na tentativa de estabelecer em Moçambique um sistema económico marxista-leninista - que nunca funcionou - a Frelimo lançou em 1983 a Operação Produção que obrigou milhares de pessoas - entre 50 e 100 mil - a deixar as famílias e a ir para o Niassa. No meio de todas estas arbitrariedades e violências, cada vez mais escapava à Frelimo o aparelho produtivo, económico e burocrático. Mais uns milhares que foram dizimados com esta iniciativa da Frelimo, por causa do frio, da fome, comidos pelos animais ou por doença.
Após a morte de Samora Machel, em 1986, Joaquim Chissano sucede na Presidência da República. Em 1988, Chissano autorizou o regresso para as zonas de origem das pessoas que tinham sido forçadas a ir para o Niassa, mas não lhes deu os meios para voltarem.

Foi neste panorama que se formou um movimento para lutar contra o comunismo imposto à força e sem o apoio popular. A Rodésia de Ian Smith e, mais tarde, a África do Sul do "apartheid", criaram, armaram e dirigiram a Renamo. Tanto a Rodésia, como a África do Sul, faziam incursões frequentes em território moçambicano, para atacarem as bases da Zanu, Zapu e do ANC. A Guerra civil começou logo em 1977 e durou até 1992.
Antes, em 1987, devido ao descalabro económico originado pelo comunismo, o governo de Moçambique comprometeu-se com o Banco Mundial e com o FMI a abandonar completamente a política "socialista".


 Chega-se assim a 4 de Outubro de 1992, quando foi assinado por Chissano e Dhlakama, na Comunidade de Santo Egídio, em Roma, o Acordo Geral da Paz. A ONU criou a força internacional ONUMOZ, que se destinava a desarmar as tropas da Frelimo e da Renamo, e que esteve em Moçambique de 1992 a 1994, ano em que se realizaram as primeiras eleições gerais multipartidárias.
Depois de 21 anos de Paz em Moçambique, no dia no dia 17 de Outubro de 2012, Afonso Dhlakama regressou à antiga base do partido, a Casa Banana, em Satunjira na zona da Gorongosa, em Sofala.
No dia 21 de outubro de 2013, militares da Frelimo tomaram aquela base da Gorongosa. Nestas condições, a Renamo, anunciou o fim do Acordo de Paz de 1992. Depois de 21 anos de paz, Moçambique voltava à guerra civil. 

Ontem, domingo, 24 de Agosto de 2014, foi assinado um Acordo de Cessar Fogo entre as partes.
Vamos ver se este foi o último capítulo que temos de escrever sobre as hostilidades em Moçambique. Desejo muito que sim.

1 comentário:

  1. Na História de Moçambique, têm-se alternado períodos de guerra e paz. Antes da chegada dos portugueses, os habitantes de Moçambique sofreram martírios nas mãos dos árabes. Os portugueses continuaram durante algum tempo com a escravatura, que já era praticada pelos árabes. Foram depois os desmandos do Gungunhana sobre as populações, seguidos da chamada "pacificação" pelos portugueses.
    Veio depois a guerrilha, dirigida pela União Soviética, em plena Guerra Fria Leste-Oeste (1964-1974).
    Pouco depois da retirada dos portugueses, iniciou-se uma guerra civil, que durou 16 anos (1976-1992). No ano passado, a situação complicou-se e voltaram à luta fraticida.
    No domingo à noite, as partes beligerantes assinaram um Acordo de Cessar Fogo. Não foi ainda um Acordo de Paz, pelo que é lícito traçarmos todo e qualquer cenário para o futuro de Moçambique.
    Que o Acordo de ontem seja o último capítulo de uma história que tem colocado Moçambique entre a Guerra e a Paz por todo o tempo que leva de existência.

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